quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Desabafo...



Era o que faltava! Defender a imparcialidade é promover a baderna. Questionar artigos tendenciosos é me declarar socialista. Pedir para avaliar os fatos é descredibilizar pessoas e ver além das paixões é ser hipócrita e despreparada. Como devo agir então? Devo me conformar com todo tipo de asneira que vejo? Devo engolir esses conceitos banhados das impressões de alguém tão cego quanto os cegos que critica? O que é a verdade? Quantas verdades existem? Para cada cabeça há uma ideia e uma sentença. Não me julgue nem me diminua porque ninguém pode ver com meus olhos. Não tente me rebaixar com seus títulos porque títulos não são sinônimo de experiência, tampouco de sabedoria. Se há algo que caracteriza um sábio é a sua humildade ante à vida. Ele entende que não é dono do conhecimento e por isso não tenta curvar os outros aos seus conceitos. Não! Um verdadeiro sábio compreende que para cada fato há visões diferentes e em vez de dominar mentes, ele as faz expandir. Você pode ter vivido muitos anos e conhecer muitos lugares, mas não é dono da História e nem dos meus pensamentos.

Guarde sua prepotência e arrogância travestidas de cultura, porque nada disso me interessa. Quer dizer que eu mal saí da faculdade e não mereço crédito porque sou uma alienada pseudointelectual esquerdopata? Poupe-me de seu discurso envenenado. Não sou eu que tento trazer pessoas para a minha religião, meu partido, minhas ideias, meu cabresto! O conhecimento deve libertar e não restringir. O que você entende da vida se mal conhece as pessoas? Como pode se achar inteligente se não consegue enxergar além de si mesmo? Não sou eu que busco nos outros o meu próprio reflexo, então me respeite como o ser pensante que sou. Tenho o direito de pensar diferente sem ser taxada de "idiota útil" ou coisa parecida. Eu vejo os dois lados da moeda, coisa que você já não consegue. Enquanto busco soluções, você constrói inimigos. Enquanto eu analiso fatos, você se dobra ante as traquinagens de uma mídia vendida. Quem é você? Mostre-me seu rosto! 

Eu tenho o direito de não escolher um lado. Eu não sou você e não acredito num mundo onde todos pensem igual. Você diz que combate ditaduras, mas é autoritário em cada palavra. Eu defendo o direito de discordar, já você não reconhece outra versão que não seja a sua. É um pseudossábio que diz lutar por liberdade mas não sabe o que ela significa. Você pode ser o que quiser, pode pensar o que quiser, pode fazer o que quiser, desde que dê aos outros a mesma prerrogativa. Caso contrário, será tão ditador e pernicioso quanto os líderes que tanto odeia. Aliás, guarde seu ódio. "Idiotas úteis" existem em ambos os lados e para todos os gostos. Todos nós somos idiotas e minha burrice não é maior ou menor que a sua. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Pra não dizer que não falei das flores...


Um repórter cinematográfico morreu no meio de uma manifestação contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. Ele virou notícia na grande mídia, mas sua morte, estranhamente, não teve o mesmo impacto na emissora onde trabalhou por cerca de 10 anos. Minutos após a fatalidade (ou homicídio doloso), o fato já estava sendo explorado exaustivamente pelo maior veículo de comunicação do país, mas veja que ironia, tantos outros membros da imprensa foram massacrados pela polícia e não receberam a mesma comoção. Talvez seja porque esses repórteres não eram parte da grande imprensa, não serviam aos mesmos interesses e por isso foram vistos como baderneiros sem causa. Mais irônico ainda é o esforço maciço das grandes emissoras em condenar os manifestantes e voltar a opinião pública contra eles. Que interesse há nisso? Que interesse um deputado pode ter em fomentar a violência em uma manifestação que se iniciou de forma pacífica? Que interesse tem uma revista em desvirtuar as lideranças de um movimento que luta, entre outras causas, pelo fim da corrupção? Pelo enfraquecimento dessa corja que vive do dinheiro público e se vangloria da nossa miséria? É estranho... Só não é mais estranho que o silêncio de uma certa emissora de televisão durante a Ditadura Militar. Queria muito entender porque a perda de um colega doeu de forma tão profunda na mesma emissora que "engoliu" o "suicídio" de Vladimir Herzog nos porões do DOI-CODI. Não era pela censura, já que outros colegas mais, digamos, comovidos, burlaram a fiscalização dos militares e alfinetaram o regime até inflamar a população contra os opressores. A mídia atual, ao contrário, parece insistir em jogar a revolta popular contra os oprimidos. Não apoio o que aconteceu com o colega Santiago, mas usar sua morte como arma não me parece sinal de nobreza. Era um repórter, um brasileiro, uma vida.

Em ano de Copa, o mundo se prepara para conhecer o Brasil e a imprensa internacional, que já estava assustada com os preços estratosféricos cobrados pelo aluguel de salas e equipamentos, agora se apavora com a guerra nas ruas. Mais apavorados devem estar os investidores, que já não tem a mesma confiança na política e economia brasileiras. A dívida interna cresce dia após dia, alavancando a inflação que já começa a apertar no bolso. Não há saúde, educação nem transporte de qualidade. Nossas rodovias são o retrato do que há de mais retrógrado, fazendo com que boa parte dos alimentos e insumos se percam no caminho até nossos portos, também ultrapassados. Por falar em portos, Cuba acaba de ganhar um dos mais modernos do mundo! E o melhor é que foi um singelo presente do povo brasileiro. Isso mesmo, nossa saúde vai mal, nossa estrutura logística vai mal, nossa educação vai mal, mas o porto de Cuba, esse vai muito bem.

O Brasil é único país do mundo onde o ato de se manifestar é considerado mais nocivo que o ato de desviar recursos públicos ou utilizá-los indiscriminadamente. Mas isso tem uma explicação que, nas sábias palavras de um colega, se resume em fazer as leis para cumprir onde, quando e como quiser. O povo não faz as leis e parece estar cada vez mais refém de seus ditos representantes. A situação piora quando a mídia dá à massa a visão que seus financiadores querem. E quem são os financiadores? Adivinha... O povo acostumado à migalhas não busca se libertar da mão que o alimenta. Mal sabe que se de um lado vem o pão, do outro vem a mordaça. É preciso falar enquanto há voz e a voz não está na grande mídia. Quanto mais cedo a população perceber que deve buscar por si mesma as suas verdades, melhor. 

A verdade é que a imprensa é refém de razões alheias à vontade do povo e à sua própria. Por isso, toda informação, por mais fiel que pareça, pode ter sido corrompida. Não é saudável aceitar como verídicos fatos tratados em uma ilha de edição. Não se pode acreditar em leis duvidosas que tem como único objetivo reprimir à massa sob o pretexto de levar segurança. Esse caminho só conduz a um único fim que nós já conhecemos. E justamente porque conhecemos é que devemos combater com veemência.

A sociedade brasileira é hoje prisioneira da violência. Isso porque a confiança em nosso Judiciário é tão precária que serve de estímulo às práticas criminosas. É, no Brasil o crime compensa e o cidadão de bem vive enjaulado, assaltado pelo governo e oprimido pela bandidagem de toda espécie. Ter medo é questão de sobrevivência, mas não pode ser a única reação diante de tamanha crueldade. É preciso lutar para que a máquina pública sirva ao povo, mesmo que nesse processo vidas se percam. Hoje, os jornalistas sentiram na pele a perda de um colega. Amanhã, a sociedade pode sentir na carne os grilhões de mais uma ditadura. Só nos resta lutar até que tudo mude ou até que a última voz se cale e sejamos um país de mudos.