sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Velhas verdades, novas mentiras...


                

O tempo tráz à tona velhas verdades, assim como a necessidade de sorrir nos remete à novas mentiras. É sempre assim, desde que Deus inventou a maçã e cismou de proibir Eva de comê-la. Esses luxos vazios que compõem nossa visão deturpada de felicidade foram incorporados á nossas mentes num constante esforço histórico. E a vida segue, nessa busca desvairada por uma felicidade ideal, postiça. Não é que ela seja impossível, só que muitos se perdem no processo. Eu caí também. Talvez eu tenha me perdido nas minhas próprias atitudes, mas é um fardo que se leva ao assumir escolhas. Não me arrependo porque isso não me pertence mais.

Quero aposentar as velhas mágoas para que elas tenham o seu devido descanso...e me permitam ter o meu. Uma alma cansada envelhece anos em dias! Não quero isso, não tenho pressa. Começar de novo é um exercício de coragem e determinação. Difícil, mas necessário. É preciso recomeçar sempre que se chega ao fim de uma etapa. Isso porque a vida é feita de ciclos onde os momentos bons e ruins se alteram. O importante é selecionar bem o conteúdo da bagagem que se leva, pois quanto mais pesada, mais lenta a caminhada, mais demorado é o aprendizado e mais curto se torna o tempo para recuperar o que é realmente importante.

As velhas verdades surgem para nortear os pensamentos quando eles se desvirtuam. As novas mentiras são o alimento de nossas ilusões, quase sempre dolorosas, mas fundamentais para o crescimento pessoal. É o equilíbrio de verdades e mentiras que faz da vida o que conhecemos: essa roda louca de "sobes" e "desces". Hora feliz, hora triste, sigo meus dias tentando me tornar mais leve. Abrir mão de hábitos viciantes e viciados é algo que, sem dúvida, balança as estruturas de qualquer um. Por isso é preciso ter força, para lidar com as peripécias do coração e ousadia, para mostrar ao mundo o resultado dessa constante mudança interior. Todos os dias, peço a Deus serenidade e todos os dias, Ele me responde com um sorriso no céu. Isso me dá a calma que preciso e é também a certeza de que não estou sozinha.

A verdade é que a vida é uma estrada onde caminhamos para encontrar as lembranças do que um dia fomos. Essas lembranças são bases para os novos passos, assim como as velhas verdades são bases para as novas mentiras. Não existem receitas prontas para acertar o caminho porque só o caminhar já faz valer a chegada e, de uma forma ou outra, conduz à partida.

É preciso ter paciência para respeitar limitações até o momento de superá-las, humildade para transpassar insucessos e autoestima para valorizar acertos. Importante também é nunca parar, mesmo que os pés calejados exijam. A recompensa é o aprendizado advindo da superação. Com o tempo, as coisas se resolvem, se justificam. O que sobra é a serenidade de quem tropeçou muitas vezes e caíu outras tantas, mas soube se levantar e continuou caminhando. Porque no fim, não importa o tamanho da estrada, tudo vira canção...


"Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
Ou nada sei...

Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz, pra poder sorrir
É preciso a chuva parar florir...

Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou (...)

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega e no outro vai embora
Cada um de nos compõe a sua historia
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz...


E ser feliz" !

(Tocando em Frente - Almir Sater)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre nossos tropeços


Hoje eu reservei alguns minutos do meu dia para falar sobre nós. Não farei isso à sua maneira, direta e seca, como é costume entre os totalitários. Estes, mesmo sem razão ou direito, permanecem no pedestal de sua prepotência. Eu não. Falo com a simplicidade de quem, até então, preferiu se calar para preservar o que mais preza.

Não faz muito tempo, nossa relação era o que se chama de imutável, imperecível. Deus sabe o quanto tenho saudade dessa fase, quando não conhecia seu lado obscuro. Hoje, não sei ao certo o que sinto. Isso porque relembro as farpas que suas atitudes dúbias colocaram no meu peito. Os sorrisos atravessados, as insinuações claras, os olhares trocados, cúmplices. Eu sabia que havia algo ali, só não tinha idéia do tamanho da sua capacidade de me fazer sofrer. Mas não me importa, porque a mim valeu cada lágrima. Fui mais do que esperava e continuei sendo, até agora.

Não me esqueci dos nossos momentos e lembranças boas, mas hoje analiso tudo com uma certa imparcialidade que me permite perceber coisas novas. A abominação que vivi por causa do seu egoísmo só me faz pensar que o mal existe dentro de nós, disfarçado em palavras doces e gentis. O bem habita nossas almas na mesma proporção, mas cabe a cada indivíduo se manter equilibrado dentro dessa dualidade. Este equilíbrio te faltou algumas vezes...

O que mais me fere não é atraição em si, mas o fato dela ter partido de você. Todas as mentiras, a arrogância no falar e a negação unida ao terrorismo sentimental doeram, mas não tanto quanto a afirmação de que eu não saberia nada caso o pior não tivesse acontecido. Isso, sem dúvida, foi algo inominável.

A verdade é que estou cansada. Todo esse desgaste só prova que essa sequência de desastres me feriu mais do que eu esperava. Fiquei meio insensível e já não sei mais se posso superar tudo isso sem um pequeno desabafo. Você não é a mesma pessoa de antes, ou nunca foi e eu é que não via? Sinceramente, não sei. Não é que eu esteja amarga, só não tenho mais paciência para lidar com algumas pedras pelo caminho. Já fui muito crente na bondade, mas hoje me surpreende essa mágoa revestida pela revolta que habita aqui dentro. Sei bem o destino disso: a indiferênça. Quis tanto superar essa dor que acabei passando por cima de mim e Deus, como eu fiz isso bem! Hoje, quem não se reconhece sou eu.

Talvez um dia eu volte a ser aquela que apenas acreditava e sorria, mas é provável que me torne seca e egoísta, como é destino de todos nós. Pode ser que, embora tenha sofrido tanto, eu deva ser realmente grata pela lição. É, eu cresci! Não da maneira que esperava, mas as coisas raramente saem como a gente espera, não é mesmo? Talvez eu me arrependa, ou talvez fique apenas aliviada. Precisava colocar para fora essa angústia antes que ela me consumisse. Quem sabe agora eu seja capaz de olhar para frente? Para o meu bem, espero que sim.

Não vim aqui ser santa, mártir ou a perfeita imagem da injustiça. Vim ser eu, com todas as minhas feridas ainda abertas, porque hoje sei que esta é a única forma de voltar a ser inteira. Essa vida de raivas relevadas e angústias reprimidas só me trouxe coisas que eu não merecia e que acabaram me tornando algo que não quero ser. Não pretendo deixar de lado aquilo que me faz doce, mas não posso mais agir como se fosse inatingível. Eu não sou. Muitas dessas feridas ainda doem a ponto de me tirar o sono e é por causa delas que hoje eu vim aqui. Preciso tentar mudar as coisas, não só a minha volta, mas também e principalmente dentro de mim. Se der certo, terei me tornado o que busco, mesmo que isso me traga alguns efeitos indesejados. Faz parte do processo. O que não posso é passar pela vida como um poço de benevolência, porque este tipo de pessoa não tem vez nem entre os seus melhores amigos.