O Brasil é um país imenso, cheio de contrastes e abismos
sociais. Curiosamente os estados mais pobres são os que melhor remuneram seus
representantes, e nem assim, com salários volumosos, esses nobres senhores se
dedicam à população que lhes deu o poder. Durante anos foi assim. O povo pacato
assistiu a condenação de mensaleiros que hoje esbanjam a riqueza usurpada dos
cofres públicos. Vimos o escândalo da CPMI do Cachoeira, que respingou em
diversos nomes, causou rebuliço entre parlamentares e em novembro de 2012 desceu
pelo ralo com a liberação do contraventor, que ficou apenas 9 meses na cadeia. Vimos
a saída de Sarney da presidência do Senado e a gloriosa volta de Renan
Calheiros, que mesmo acusado de peculato, falsidade ideológica e imerso em uma
onda de escândalos, assumiu a chefia da Casa. Ainda atordoados com tamanho
disparate vimos, perplexos, a chegada democrática do deputado e pastor Marcos Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias! Ora, como alguém
intolerante, fundamentalista, com claras tendências racistas e declaradamente
homofóbico pode zelar pelo direito das minorias? E mesmo com a reação popular
contrária a essa jogada política nada, absolutamente nada foi feito para dar
uma satisfação à massa. A continuação dessa história é o óbvio: uma perseguição
desmedida contra os homossexuais que, até onde se sabe, também são minorias e
deveriam ser protegidos pela Comissão. Enfim, o povo perdeu a fé na capacidade daqueles que estão no poder.
Com essa crescente insatisfação
no coração, engolimos em silêncio os gastos homéricos com a Copa
das Confederações enquanto hospitais e escolas se arrastam à míngua e até
permanecemos inertes ante a volta da inflação! Tudo ia relativamente bem, até
que o governo resolveu aumentar a tarifa do transporte, que já era caro e
deficitário. Muitos disseram que 20 centavos não fariam falta, mas fizeram.
Eles transbordaram no brasileiro toda a indignação diante da sujeira que se
tornou o nosso cenário político. Esses míseros vinténs, como disse um certo
jornalista, são os bilhões roubados da educação, da saúde, do transporte e da
segurança de toda população. Em questão de horas, assistimos a massa ganhando
as ruas das capitais brasileiras. Vimos gente de todas as classes se unindo
por interesses iguais. Vimos, com esses mesmos olhos cansados, o despertar de
uma Nação que já não tinha voz. E eufóricos, percebemos que essa voz já começa
a ser ouvida! A PEC 37, que reduzia os poderes de investigação do Ministério
Público, foi reprovada com louvor. A “cura gay” e a PEC 33, que limita a ação
do STF, podem ter o mesmo destino e a presidenta Dilma já fala em plebiscito para
fazer uma reforma política. Até mesmo o projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo saiu da gaveta e foi aprovado no Senado, devendo seguir até a sanção presidencial.
É a segunda vez em nossa história que o povo vai às ruas para exigir direitos, mas o volume de manifestantes torna esse um fato inédito! A exemplo de outras nações, como Turquia e Egito, também vivemos nossa Primavera. É o grito de um povo que já não tem mais de onde tirar para sustentar essa corja de corruptos que insiste em permanecer no poder. É o choro das famílias que perderam entes queridos para a violência e o sofrimento daqueles que foram mutilados ou mortos por uma saúde doente. Essa massa nas ruas é o Brasil que nem os brasileiros conheciam. O Brasil que se cansou de pão e circo e não quer mais gritar Gol! A Pátria não está de chuteiras! Estamos de luto e não vamos nos calar. Isso é só o começo! É só uma prévia do que virá nas urnas. O Gigante finalmente acordou e jamais se esquecerá dos dias negros do passado.
*Fotos cedidas por Carlos Eduardo Cordeiro
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