segunda-feira, 1 de novembro de 2010

É preciso abandonar...


Quando se abandona velhos hábitos e sentimentos, a vida fica mais leve. Aí, sobra mais tempo pra sonhar e sorrir...

Muitas vezes, ao me deparar com algo que me fizesse mal, travava uma batalha interior para entender aquilo. Só que nem tudo tem uma explicação lógica e tentar enquadrar os fatos num padrão possivel e aceitável acaba gerando um desgaste desnecessário. O melhor mesmo é entender, por exemplo, que caminhos existem para se cruzarem e divergirem... Afinal, assim como passam as estações, passam também as pessoas. O importante é seguir, de alma limpa, pesando na balança apenas o que teve relevância.

Quando percebi que minhas dúvidas eram reflexo de pedências diversas, parei de tentar resolvê-las. Elas já estavam resolvidas e eu não havia percebido... Agora, penso em cada dia como uma dádiva única que posso usar como eu quiser. Agradeço mais...agradeço sempre! A gratidão motiva a conseguir mais por mim e pelos que me cercam.

Assim, concluí que a felicidade dada a mim em doses contínuas, é uma recompensa pelo meu crescimento espiritual. Posso tudo pela fé que tenho! Hoje, estou certa de que uma Força Maior me conduz e ampara. E é através dessa Força que eu vou realizar meus projetos. 

Livre de amarras, pela força do meu sorriso e por um toque de Deus, sigo em passos soltos, leves como esse coração cheio de desejos:
Aos que me amam, amor de volta. Aos que me odeiam, amor em dobro!
E para embalar essa quebra de vibrações conflitantes, envio em pensamentos versos de paz e serenidade que só quem sabe, sente!


"Leve com você
Só o que foi bom
Ódio e rancor
Não dão em nada
Nada

Ouço aquele som
Lembro de você
Como acabou
Mas não tem nada não
Só guardo o que foi bom
No meu coração..."
(Natiruts)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Velhas verdades, novas mentiras...


                

O tempo tráz à tona velhas verdades, assim como a necessidade de sorrir nos remete à novas mentiras. É sempre assim, desde que Deus inventou a maçã e cismou de proibir Eva de comê-la. Esses luxos vazios que compõem nossa visão deturpada de felicidade foram incorporados á nossas mentes num constante esforço histórico. E a vida segue, nessa busca desvairada por uma felicidade ideal, postiça. Não é que ela seja impossível, só que muitos se perdem no processo. Eu caí também. Talvez eu tenha me perdido nas minhas próprias atitudes, mas é um fardo que se leva ao assumir escolhas. Não me arrependo porque isso não me pertence mais.

Quero aposentar as velhas mágoas para que elas tenham o seu devido descanso...e me permitam ter o meu. Uma alma cansada envelhece anos em dias! Não quero isso, não tenho pressa. Começar de novo é um exercício de coragem e determinação. Difícil, mas necessário. É preciso recomeçar sempre que se chega ao fim de uma etapa. Isso porque a vida é feita de ciclos onde os momentos bons e ruins se alteram. O importante é selecionar bem o conteúdo da bagagem que se leva, pois quanto mais pesada, mais lenta a caminhada, mais demorado é o aprendizado e mais curto se torna o tempo para recuperar o que é realmente importante.

As velhas verdades surgem para nortear os pensamentos quando eles se desvirtuam. As novas mentiras são o alimento de nossas ilusões, quase sempre dolorosas, mas fundamentais para o crescimento pessoal. É o equilíbrio de verdades e mentiras que faz da vida o que conhecemos: essa roda louca de "sobes" e "desces". Hora feliz, hora triste, sigo meus dias tentando me tornar mais leve. Abrir mão de hábitos viciantes e viciados é algo que, sem dúvida, balança as estruturas de qualquer um. Por isso é preciso ter força, para lidar com as peripécias do coração e ousadia, para mostrar ao mundo o resultado dessa constante mudança interior. Todos os dias, peço a Deus serenidade e todos os dias, Ele me responde com um sorriso no céu. Isso me dá a calma que preciso e é também a certeza de que não estou sozinha.

A verdade é que a vida é uma estrada onde caminhamos para encontrar as lembranças do que um dia fomos. Essas lembranças são bases para os novos passos, assim como as velhas verdades são bases para as novas mentiras. Não existem receitas prontas para acertar o caminho porque só o caminhar já faz valer a chegada e, de uma forma ou outra, conduz à partida.

É preciso ter paciência para respeitar limitações até o momento de superá-las, humildade para transpassar insucessos e autoestima para valorizar acertos. Importante também é nunca parar, mesmo que os pés calejados exijam. A recompensa é o aprendizado advindo da superação. Com o tempo, as coisas se resolvem, se justificam. O que sobra é a serenidade de quem tropeçou muitas vezes e caíu outras tantas, mas soube se levantar e continuou caminhando. Porque no fim, não importa o tamanho da estrada, tudo vira canção...


"Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
Ou nada sei...

Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs.
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz, pra poder sorrir
É preciso a chuva parar florir...

Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou (...)

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega e no outro vai embora
Cada um de nos compõe a sua historia
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz...


E ser feliz" !

(Tocando em Frente - Almir Sater)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre nossos tropeços


Hoje eu reservei alguns minutos do meu dia para falar sobre nós. Não farei isso à sua maneira, direta e seca, como é costume entre os totalitários. Estes, mesmo sem razão ou direito, permanecem no pedestal de sua prepotência. Eu não. Falo com a simplicidade de quem, até então, preferiu se calar para preservar o que mais preza.

Não faz muito tempo, nossa relação era o que se chama de imutável, imperecível. Deus sabe o quanto tenho saudade dessa fase, quando não conhecia seu lado obscuro. Hoje, não sei ao certo o que sinto. Isso porque relembro as farpas que suas atitudes dúbias colocaram no meu peito. Os sorrisos atravessados, as insinuações claras, os olhares trocados, cúmplices. Eu sabia que havia algo ali, só não tinha idéia do tamanho da sua capacidade de me fazer sofrer. Mas não me importa, porque a mim valeu cada lágrima. Fui mais do que esperava e continuei sendo, até agora.

Não me esqueci dos nossos momentos e lembranças boas, mas hoje analiso tudo com uma certa imparcialidade que me permite perceber coisas novas. A abominação que vivi por causa do seu egoísmo só me faz pensar que o mal existe dentro de nós, disfarçado em palavras doces e gentis. O bem habita nossas almas na mesma proporção, mas cabe a cada indivíduo se manter equilibrado dentro dessa dualidade. Este equilíbrio te faltou algumas vezes...

O que mais me fere não é atraição em si, mas o fato dela ter partido de você. Todas as mentiras, a arrogância no falar e a negação unida ao terrorismo sentimental doeram, mas não tanto quanto a afirmação de que eu não saberia nada caso o pior não tivesse acontecido. Isso, sem dúvida, foi algo inominável.

A verdade é que estou cansada. Todo esse desgaste só prova que essa sequência de desastres me feriu mais do que eu esperava. Fiquei meio insensível e já não sei mais se posso superar tudo isso sem um pequeno desabafo. Você não é a mesma pessoa de antes, ou nunca foi e eu é que não via? Sinceramente, não sei. Não é que eu esteja amarga, só não tenho mais paciência para lidar com algumas pedras pelo caminho. Já fui muito crente na bondade, mas hoje me surpreende essa mágoa revestida pela revolta que habita aqui dentro. Sei bem o destino disso: a indiferênça. Quis tanto superar essa dor que acabei passando por cima de mim e Deus, como eu fiz isso bem! Hoje, quem não se reconhece sou eu.

Talvez um dia eu volte a ser aquela que apenas acreditava e sorria, mas é provável que me torne seca e egoísta, como é destino de todos nós. Pode ser que, embora tenha sofrido tanto, eu deva ser realmente grata pela lição. É, eu cresci! Não da maneira que esperava, mas as coisas raramente saem como a gente espera, não é mesmo? Talvez eu me arrependa, ou talvez fique apenas aliviada. Precisava colocar para fora essa angústia antes que ela me consumisse. Quem sabe agora eu seja capaz de olhar para frente? Para o meu bem, espero que sim.

Não vim aqui ser santa, mártir ou a perfeita imagem da injustiça. Vim ser eu, com todas as minhas feridas ainda abertas, porque hoje sei que esta é a única forma de voltar a ser inteira. Essa vida de raivas relevadas e angústias reprimidas só me trouxe coisas que eu não merecia e que acabaram me tornando algo que não quero ser. Não pretendo deixar de lado aquilo que me faz doce, mas não posso mais agir como se fosse inatingível. Eu não sou. Muitas dessas feridas ainda doem a ponto de me tirar o sono e é por causa delas que hoje eu vim aqui. Preciso tentar mudar as coisas, não só a minha volta, mas também e principalmente dentro de mim. Se der certo, terei me tornado o que busco, mesmo que isso me traga alguns efeitos indesejados. Faz parte do processo. O que não posso é passar pela vida como um poço de benevolência, porque este tipo de pessoa não tem vez nem entre os seus melhores amigos.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Manhã


Acordei com o vento batendo na janela e abri para que ele entrasse. Era mesmo uma manhã linda! Meus passaros, livres, cantavam nos galhos de uma jovem goiabeira. Nessa hora, percebi que o mundo não é mais perfeito que o meu quintal. Isso porque nele vejo a paz que sai de mim e das pessoas que amo. Sinto a vida, em sua forma mais simples e plena... Olhando as árvores, dançando ao ritmo do vento, percebo o quanto a vida é boa, como deveria, de fato, ser. Tenho tanto... sou tão grata! Meus dias começam em preces de agradecimento.

Obrigada, Pai...
Obrigada, Mãe...

Obrigada por me tornarem morada do Cosmos!
Pachamama... no teu ventre, abraço o infinito!

Namastê!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Nada


Da soleira, vejo teu rosto. O mesmo de antes, calmo e observador. Sinto falta disso. Daquelas conversas que tivemos e das muitas que não aconteceram por motivos diversos. Tudo mudou tão rápido. Nem deu tempo de arrancar de mim aquelas velhas mágoas. Elas ainda estão aqui, em algum lugar no peito.

Por várias vezes questionei suas escolhas, mas nunca soube como se sentia. Hoje acho que entendo, ao menos em parte, a sua fome de viver e de realizar cada vontade. A verdade é que você sabia o quanto a vida corre, como se escorresse por entre os dedos. Quanto mais a gente tenta segurar, mais ela se espalha pelo chão.

Me arrependo de não ter aprendido mais. Talvez agora esteja pronta para seguir meu caminho. Talvez não. É que esses últmos anos foram estranhos. Sem dúvida, os mais significativos da minha vida. Vivi mais e sonhei menos, imagino. Logo eu, que vivia de sonhos, desaprendi a voar para caír nessa bola de fogo chamada Realidade. Fui tão absorvida por ela que minha fé tem sido meu único refúgio. Hoje acredito em tudo, até em bolas de fogo invadindo o céu. Será que estou louca? Já nem sei... Não seria prudente também perder futuras recordações com expeculações baratas sobre futuro. Será que ele existe? Perguntei ao Pai e à Mãe, mas eles não me disseram nada. Pode ser que no balanço das árvores ou até no próprio vento, a resposta tenha se escondido. Não sei e não saber sempre deixa um vazio na gente...

Sei que tudo passa e por isso não tenho mais pressa. Logo agora, que deveria viver mais, é que eu quero viver menos! Preciso aliviar a carga. Tem coisas pesadas demais comigo. Quero viver menos transtornos, menos desentendimentos, menos tristezas, menos estress. Fiz um compromisso com tudo que vive e vem de mim. Só vou viver o que for realmente bom o bastante para valer meus preciosos dias. Se essa loucura for real, terei serenidade. Se não for, terei conhecimento.

Tudo se renova, tudo passa, tudo tem pressa. Por isso estou num resgate alucinante de tudo que perdi e me agarro à cada sorriso novo. Quem sabe encontro o que falta? Se é que falta alguma coisa. Não há como saber... e eu também não quero a verdade. Prefiro a minha verdade, a que vejo no calor do Sol, na persistencia da Água, na suavidade do Vento. O absoluto se faz em mim, na Águia Azul que sou. Por isso não quero a pequenez da existência. Ninguém deveria querer! Tudo é um grande ciclo que se fecha e isso explica todas as coisas. Se somos mesmo pó das estrelas, então o mistério da vida está revelado. Estamos aqui, onde outros estiveram e para onde outros virão. O que há depois daqui não pode despertar outro sentimento que não seja o de fascinação. Afinal, como poderia ser diferente se todos somos agraciados com o dom da Eternidade?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Violência, Restart, Nibiru e outras lorotas...

O problema do mundo é que as pessoas se importam mais com as diferenças que com a essência. Somos todos um emaranhado de átomos, os mesmos existentes nas pedras, no ar e no universo. Tudo é matéria e energia. Tudo tem exatamente o mesmo fim e o mesmo começo. O fato de termos consciência de nossa suposta superioridade não nos dá o direito de usar descabidamente todos os recursos como se não houvesse amanhã. Talvez não haja mesmo, e nesse caso, a culpa é nossa.

Ontem, assistindo a um jornal, fiquei impressionada com as notícias do tempo. Cidades do Mato Grosso, cujas temperaturas sempre foram altas, deparam-se agora com uma temporada de frio intenso, nunca vista antes. O resultado dessa queda de temperatura desproporcional para a região foi catastrófico: centenas de cabeças de gado se perderam. O impacto dessa frente fria na economia já pode ser considerado, de fato,  previsível. Já no Sul do país, acostumado a baixas temperatura, moradores de rua estão morrendo de hipotermia. Um problema que não tinha sido enfrentado antes com tanta frequência. Mas todas essas notícias tristes não me surpreenderam tanto quanto saber que pinguins foram encontrados mortos no litoral de São Paulo. A justificativa dada pelos biólogos foi a falta de alimento. Os pinguins estavam anêmicos, ficaram fracos demais para terminar a jornada e foram trazidos pelas ondas até a praia. Agora eu pergunto: por quê não havia alimento para esses pinguins? Bem, o aquecimento constante dos mares e a poluição causam a morte de algas e planctons, que são a base das cadeias alimentares oceânicas. Sem esses minúsculos organismos, os outros animais marinhos vão gradativamente desaparecendo. Também vale ressaltar que os oceanos regulam a temperatura global. Se eles esquentam, o clima se torna instável, dando origem às mazelas que vemos diariamente.

O que mais me apavora dentre as coisas que ouço e  vejo é perceber que as pessoas desenvolveram o hábito de não se importar. Talvez por causa da banalização de catástrofes ambientais, tratadas com descaso até pela mídia, ou por causa de nossa impotência frente a tamanho desastre. Por um motivo ou outro, poucas coisas nos surpreendem atualmente. Da mesma forma, tratamos temas como a violência. Dentro de um mês, vimos a morte absurda de Eliza Samudio, a perseguição doentia que terminou no assassinato da advogada Mércia Nakashima e a execução acidental de uma criança, dentro da sala de aula, por uma bala perdida. Penso na sociedade e isso me dá medo. Com tanta abominação, não vejo exemplo que se preze a ser deixado para as crianças. É triste presenciar a falta de princípios e o crescente desuso dos valores basilares. Quase tão triste quanto ver a inércia da sociedade diante da própria decadência. 

Vejo crianças o tempo todo e fico impressionada com o modo como elas podem ser moldadas. Elas imitam para aprender. Seguindo por esse princípio do exemplo, penso sobre o que se passa na cabeça dessas crianças quando vêem na TV o reflexo do caos social que vivemos. Elas não tem grandes ídolos, grandes idéias, nem ambições. Não sabem o que é ter um ideal ou levantar uma bandeira. Aliás, não sabem o que é ter amor a uma bandeira, mas acham bonito balançar uma na Copa do Mundo. Qualquer outra demonstração de patriotismo é atitude vergonhosa e desnecessária. Elas não tem grandes sonhos, se contentam com pouco, ficam felizes com as verdades inventadas por uma mídia patética e ainda acham que são adultas porque falam de sexo, mesmo sendo novas demais para isso. Crianças não deveriam falar de sexo antes de terem pêlos. Acho até que não deveriam ver TV, mas isso é um conceito meu.

Penso que se algo tão precioso quanto o futuro da Humanidade está dentro de mãos tão pequenas, é dever de todos zelar para que essas mãos estejam preparadas para suportar esse peso. Mas não é o que vejo. O que vejo são crianças vestindo roupas coloridas, ouvindo bandas de som duvidoso e fazendo uso de um linguajar tão pobre que chego a acreditar que se trata de outro idioma. Português não é, tenho certeza! E isso é só o começo. Converse com um adolescente e perceba o seu grau de alienação. Tudo o que você vai ouvir é um monte de lorotas e alguns palavrões embasados numa revolta postiça. Digo postiça porque motivo para se rebelarem eles tem, mas não usam. Nossos jovens não levantam bandeiras, não se preocupam com grandes coisas e, como não tiveram bons exemplos, também não os oferecem aos que chegam. É um ciclo vicioso. Não se importar é mais cômodo que dar a cara à tapa. Mas nesse mundo de comodismos, a roda louca da vida não pára...e ela tem pressa.  

Você pode ser um fanático religioso, um adolescente rebelde que não entende nada de política, uma criança fã do Restart, usar drogas ou fazer uso de qualquer outra forma de alienação. Você pode jogar seu lixo na rua, ir á até a padaria de carro, comprar roupas feitas de pele ou fingir que não existe aquecimento global. Você pode também agir com frieza diante da dor alheia e considerar inadequadas as diversas formas de expressão do amor. Beba seus preconceitos para engolir sua vergonha diante do que não compreende. Seja uma pessoa de plástico. O que você não pode é achar que suas atitudes não terão resposta, porque ela sempre chega. Tudo que vai volta. Se quisermos continuar no comando desse lugar que chamamos de Terra, temos que demonstrar merecimento. Bem, eis aí a maior tarefa do homem. Fazer por merecer a dádiva que possui. Se pelo menos fossemos unidos poderiamos marchar juntos rumo à extinção, mas nem isso, meu Deus, nem isso! Meu coração cansado se prepara para a ira divina. Que Nibiru tenha pena de nós.

Amém!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Carta para dona Saudade



Pai, eu não sou mais aquela menina, que chorava por tudo. Não tenho os mesmos sonhos que compartilhamos. Acho que me esqueci dos nossos planos. Até pensei ter esquecido seu rosto! Talvez por isso tenha buscado em velhas fotografias os seus olhos miúdos e calmos. É engraçado lembrar seu olhar. Ele parecia uma extensão do seu sorriso. Que saudade tenho desse tempo. Na simplicidade de nossa casa, de nossas vidas, eramos felizes. Tanto que hoje me dói essa sala vazia de sua presença. Esse espaço nunca pareceu tão grande.

Sabe pai, as coisas mudaram. Não sei se me reconheço bem. Tenho ainda alguns receios, mas procuro me lembrar de você nas horas de dúvida. As vezes quase posso te ouvir, me pedindo calma e força. Acho que no fundo, você me conheceu em minha totalidade. Com seu jeito pacato de ser, me ensinou as grandes coisas da vida. É pena, pai, que eu não tenha reconhecido na hora certa todas as suas verdades tortas. Elas não eram perfeitas, talvez nem se enquadrassem no meu mundo, mas eram suas, seu melhor presente para mim. Pode ser que eu não soubesse mesmo usar seus ensinamentos de homem simples e realista. É que sua simplicidade me parecia falta de ambição e, seu realismo, tinha um "Q" de crueldade revestida de frieza. Triste equívoco dessa filha ingrata que de tão igual a você, não soube lidar com essas sutis diferenças.

Você era meu espelho. Refletia meus defeitos, limitações e sonhos frustrados. Era quase um tapa na cara, uma pedrada no meu ego. Nossas pequenas injustiças diárias são lembranças nebulosas nessa mente perturbada. Mas sabe, pai, mantenho vivo na memória todo esse aprendizado. Amei você a cada dia, mesmo quando fugi de casa. Queria seu colo, até nas horas em que sua presença parecia me sufocar. E busquei você, sempre, em todas as decisões que me trouxeram até aqui. A falta só não é maior que a certeza de sua plenitude, no céu e em mim. Isso me basta, por hora.

Só peço, pai, que você desperte o seu melhor em mim. Que eu saiba usar sua persistência e serenidade para alcançar meus projetos, mas que eu tenha também sua humildade, para entender que nessa vida, tudo passa. O importante é o que levamos por dentro. Essa riqueza de virtudes te fez grande. O maior homem que já conheci. Talvez o mais verdadeiro. Eu conhecia seu coração porque ele sempre esteve aberto. Como um livro cheio contos diversos sobre lugares distantes onde todas as pessoas eram felizes. Com você, entendi que a felicidade se esconde no ar, nos gestos, nos sorrisos sinceros, como os que você sempre me oferecia com os olhos. Seus olhos, calmos e miúdos, cheios de um brilho intenso. Sabe, pai, eu não sou a mesma menina de antes, a que chorava por tudo. Hoje, minhas lágrimas são mais seletivas. Elas só brotam por pessoas especiais, como você. A diferença é que quando a saudade aperta, e meus olhos ficam miúdos como os seus, eu deixo brotar também um sorriso, porque nesse momento eu te vejo...é só mirar-me num espelho que nossos olhos se encontram. Amo você!

Saudades do seu solzinho...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre muros e montanhas...


Viver não é preciso...é necessário.
Amar não é necessário...
O que é necessário?
O que é realmente necessário?
A volta?
Partir...
Eu que já fui tanto...ou não
Já nem sei!
Nunca soube
Ninguém sabe
A resposta se perdeu no tempo...
Não sou boa nesse jogo de perfeição
Não sei mais se quero brincar...


"Quero explodir as grades e voar
Não tenho pra onde ir, mas não quero ficar
Suspender a queda livre, libertar...
O que não tem fim, sempre acaba assim".


(Engenheiros do Hawaii)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Línguas ao léu...


Viver é um misto de autocontrole e jogo de cintura.
Na falta de um: persistência
Na falta dos dois: coragem
Abba! E essas adagas que insistem em saír de mim?
Injustiças celestiais que me perseguem...
Mas os anjos sabem do meu esforço...e de minhas quedas.
Será que sabem o que levo no peito?
Se sabem, escondem.
Se não, assim seja (para sempre)
"Amém"!

domingo, 9 de maio de 2010

Retrato de um Sistema


Este texto é baseado num posicionamento meu sobre o sistema panóptico de vigilância do filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham.

Eu Não tenho idéias. Todas as minhas idéias, que não são minhas, são frutos deturpados de uma visão que me impuseram sobre fatos que não sei compreender.

Eu desconheço fatos. Eu desconheço respostas. Conhecer respostas é perigoso e desnecessário. Por isso, não preciso de respostas. Até porque, as perguntas não são minhas! Por que as respostas deveriam ser? Responder é demasiadamente complicado e estafante, o que justifica a presença de um poder superior, dedicado exclusivamente à difícil tarefa de perguntar e responder. Assim, não é preciso ter muitas ambições. É preciso trabalho, gratidão pelo serviço dos que pensam.

Pensar pode levar pessoas a serem donas de si. Isto é perigoso! Não é saudável que pessoas comuns cáiam no abismo de sí mesmas. Elas poderiam não querer voltar. Por isso o trabalho existe: para manter pessoas comuns presas às suas respectivas realidades. A realidade sim é saudável. Sonhos são proibidos.

Quando se sonha, os horizontes se expandem e a realidade não pode existir no infinito. É preciso se manter no palpável, no correto, no trabalho, na redoma dos pensamentos. Pensar é realmente perigoso e por isso eu não penso. Deixo que outros pensem e sou feliz assim, sem ter a responsabilidade de ser. Ser é desnecessário. Bom mesmo é existir. E que outros sejam por mim e se desgastem no comando. Comandar é para os fortes. Eu não sou forte. Sou cópia, molde, parte sem nunca ser todo. Sou sem querer ser. Sou apenas mais um bicho social ao gosto de um sistema que não compreendo. Sou o que querem de mim. Não tenho ambição de ser eu.


PS.: A vigilância tem como função evitar que algo contrário ao poder aconteça e busca regulamentar a vida das pessoas para que estas exerçam suas atividades. Já a punição é o meio encontrado pelo poder para tentar corrigir as pessoas que infligem as regras ditadas e inibir outras pessoas que, por ventura, queiram cometer condutas semelhantes.

(Sobre "Vigiar e Punir, de Michel Foucault)


sábado, 1 de maio de 2010

Pieguices...


Todos os dias me sento diante dessa tela em branco.
Todos os dias, meus pensamentos me abandonam exatamente nessa hora.
Todos os dias, vejo as notícias que passam na TV.
Até me esqueço do que a TV pode fazer com minha mente...
Todos os dias, tento me situar para entender melhor o que me rodeia...
Mas tudo o que consigo é ficar cada vez mais absorvida pelos mesmos minúsculos problemas.
Lá fora, as pessoas têm medo da polícia...
Aqui dentro, eu tenho medo de mim
No Rio, as pessoas temem a chuva
Meu receio é só essa mina d'água que levo nos olhos
É uma letargia que me impede de pensar com clareza
Uma cortina de fumaça que divide o horizonte
Faz tempo desde a última vez em que fiz um projeto
Talvez seja falta de vontade ou coisa parecida
A verdade é que cada vez me importo menos...
E não se importar é o veneno da Humanidade
Começa quando a dor do vizinho não me comove...
E termina quando só consigo pensar em mim mesma.
Egoísmo? Não...necessidade!
O mundo é uma selva de corações petrificados...
E nem sempre temos disposição para lapidar todas as pedras.
Sinto muito pelos meninos vítimas do pedófilo de Luziânia...
Sinto muito pelos milhares de desabrigados do Rio...
Sinto muito pelos desabrigados de Santa Catarina, por hora esquecidos...
Sinto muito pelas vítimas inocêntes da crueldade da polícia...
Sinto muito pelas crianças do mundo
Sinto muito pelo mundo...
Mas hoje, acima de tudo, sinto falta do meu pai...
E essa dor egoísta supera minha força para sentir outras dores...
Sei que fora dos meus portões há tragédias maiores...
Mas hoje, me recolho à insignificância de minhas lágrimas por esse alguém que tanto amo...e foi embora.
Sinto muito por mim...
Mas isso passa...
Amanhã não sentirei mais.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Colo de mãe


A graça da vida é que ela muda.
Não se sabe como, quando, quanto...
Ela muda na proporção das nossas derrotas.
O peso da perda engrandece se acompanhado de aprendizado em vez de pezar...
A gente sabe que está crescendo quando crescem os problemas...
A gente sabe que é forte quando cresce sem desanimar...
Devagar e sempre...
No balanço das ondas que se arrastam preguiçosas...
Na fúria do mar que explode na ressaca...
A força de um oceano no coração de uma mulher.
Maria-mãe
Maria-do-céu
Ave!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Palavras tortas...


Para declarar o que não pode ser dito, usei minhas lágrimas. Assim, farta de lembranças, segui o sábio conselho de um grande homem: não olho mais para trás. E que seja sempre assim. Meu passado, companheiro, é a poeira da estrada que o vento leva. Não passa...flutua. Paira no ar a espera de um cantinho onde os olhos da Sanidade não chegam. Lá, onde a Melancolia se esconde, teias de saudade se desdobram em cascatas prateadas. Luz tênue, velhos pensamentos. O tempo passa lá fora, mas que diferença faz? Levo no ventre o filho das horas incertas. Seu nome é Abismo. O meu, é Solidão.

"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
é a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
É o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol".


(Força Estranha - Caetano Veloso)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um "boa noite", apenas...


                                                        
Hoje eu senti falta do seu colo. Essa é uma necessidade que me acompanha, mas as vezes é mais urgente que nos outros dias. Sinto sua presença como se pudesse tocá-lo e, em alguns momentos de insanidade, chego a ouvir sua voz. Ela se mistura a um som leve, de flauta doce, que inunda meu quarto...e meu peito. Acho que de todas as coisas que nos unem, a música é a mais forte. É um elo místico que nos coloca em sintonia. Não sei onde você está, mas sinto que está bem. Isso me conforta, tanto quanto os abraços que você me manda através do vento. Sinto seu perfume, vindo de longe... Me perco em devaneios sobre lugares com jardins gigantescos e iluminados. Tudo canta, tudo é som. Nesse mar de melodias e cores, vejo você com seus olhos miúdos. O mesmo semblante sereno. O mesmo abraço apertado. O mesmo colo. Sinto que você me protege mesmo que não possa vê-lo. As vezes sinto que não vou suportar. Dói tanto! Parece que não acaba nunca! Será que você pode me ouvir? Espero que receba meus beijos...e o meu "boa noite" de todos os dias. Sinto sua falta... De todas as coisas que penso, essa é a única sobre a qual não posso escrever. Faltam-me palavras. Isso porque sentimentos não podem ser resumidos em frases. É uma questão de espaço. Palavras limitam...e a dor que sinto é vasta como o universo... Se o inferno tivesse outro nome, certamente seria coração.

"Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?"
(João e Maria - Chico Buarque)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Desabafo informal...


Não quero mais ver jornais, sempre os mesmos jornais sensacionalistas que exploram as mazelas humanas. Não quero colaborar com esse frenesi de notícias pedantes, cheias de mortes e desespero. Se cada correspondente levantasse mais pedras em vez de câmeras e microfones, certamente teríamos melhores resultados. Mas não, isso não dá ibope! Que necessidade há em filmar corpos se decompondo ao ar livre, pessoas dormindo sobre jornais velhos e crianças órfãs, famintas e sem rumo? Certo, a princípio é preciso chocar para atraír a atenção de quem pode ajudar...mas e quando a ajuda está de pronto? Que necessidade há em persistir com a mesma exposição exagerada da desgraça alheia? 


O mundo olha para as vítimas do Haiti. O mundo chorou pelas vítimas de Angra! E o Brasil chorou quando uma certa ponte caíu arrastando consigo cerca de vinte pessoas no Rio Grande do Sul. São tragédias, fatalidades que a mídia explora como verdadeiras minas de ouro! Qual a função da notícia? Informar, comover, vender... Penso que esta última engloba as anteriores quando se trata de importância. É preciso informar, função básica. O "comover" entra em cena quando interesses humanitários estão em jogo. Mas nada tem peso se não puder ser vendido. O mundo mantém seus olhos na miséria desastrosa haitiana. Será que o mundo sabe como a Minustah está agindo? O mundo sabe como está sendo feita a distribuição de mantimentos? Ou será que imagina como age a minúscula polícia do Haiti? Acredito que não. Será que o mundo sabe o que será feito em seguida?

Com que estratégia pode-se recontruír um país que nunca foi estruturado, dono de bases frágeis e uma população castigada pela História e pela natureza? Cada repórter  "informando o mundo" leva consigo sua barraca e seus mantimentos. Eles gozam de proteção, posto que a população em desespero poderia atacá-los. Também gozam de proteção os poucos armazéns que guardam produtos de primeira necessidade. Mais uma vez, o particular prevalece sobre o público. O certo seria o contrário. Mas o certo muitas vezes é irrelevante. Tão irrelevante quanto os pobres soterrados sob seus barracos, já que a Minustah se ocupa primeiro dos estrangeiros desaparecidos na região. É uma vergonha! A imprensa mundial mostra muitas coisas tristes que nos fazem repensar valores. Também mostra as inúmeras doações que chegam do mundo inteiro. Ela só não mostra o que está sendo feito com esses donativos...assim como nunca mostrou o que foi feito com todos os recursos recebidos do mundo após cada tragédia anterior. Afinal, o terremoto do dia 12 de janeiro não é a primeira fatalidade que atinge o Haiti...e certamente não será a última. 

O mundo observa atento, mas não sabe que a população está removendo escombros com as mãos e se ajudando como pode, como sempre fez. O mundo não sabe que no centro de Porto Principe há mais ongs como a Cruz Vermelha do que a "suntuosa" ajuda internacional liderada pelos "capacetes azuis". Foi preciso que um grupo de brasileiros criasse um blog para informar o que a imprensa não vende. Pesquisadores da Unicamp, pessoas comuns entre os comuns. Pessoas que andam pela cidade, entre repórteres e soldados, vendo de perto como verdadeiramente está a população do Haiti. E a propósito, vai como sempre, sofrendo e se virando, reconstruíndo com as mãos o que a natureza pôs abaixo. Eles se refazem, com ou sem ajuda. Obviamente há cenas que precisam ser mostradas devido à sua gravidade. Mas também é preciso mostrar a força desse Haiti que resiste, contrário a tudo que se espera. A ajuda chega, mas ainda é mísera diante da dimensão dos fatos. Esse, no entanto, não é o maior problema. A questão é a quem essa ajuda serve primeiro e quais são as prioridades.

Enquanto as "forças internacionais" decidem sobre isso, os corpos continuam apodrecendo nas ruas. Mas apesar deles, o haitiano segue juntando os cacos, porque é assim que acontece...e acaba. Seja por fatalidade, pobreza ou "macumba", o pior ocorreu. Mas quem está lá sabe bem onde as lentes mantém seus focos. Tanto faz se a fé não vende tanto quanto deveria, pouco importa se as pessoas se aglomeram tentando reestabelecer a ordem. Pouco importa que elas façam isso praticamente sozinhas. Enquanto isso, o mundo manda mais comida, dinheiro e remédios. Resta saber para qual Haiti essa preciosa ajuda anda indo.

Fontes:

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Haiti não é aqui...


A história do Haiti é cercada por conflitos políticos e catástrofes naturais. Após 30 anos de ditadura da família Duvalier, o país entrou em 1986 num período marcado por crises políticas e golpes de Estado sangrentos que se alastrou por 20 anos. As sanções internacionais impostas aos regimes políticos sucessivos pioraram ainda mais a situação, em um país onde as instituições são totalmente dominadas pela corrupção.

O Haiti ficou cada vez mais pobre e a população, de 10 milhões de habitantes, desmatou morros e montanhas para fazer carvão, indispensável para cozinhar alimentos. Aliás, a primeira preocupação de 80% da população é conseguir fazer pelo menos uma refeição por dia. O desmatamento desenfreado aumentou ainda mais a vulnerabilidade do país, assolado frequentemente pelos furacões e ciclones que se formam no Atlântico entre junho e novembro. Em uma paisagem feita de morros e vales, fortes chuvas quase sempre provocam graves inundações. A capital, Porto Príncipe, é o melhor exemplo da inadaptação do país às intempéries. A cidade foi crescendo ao longo dos anos, com favelas cada vez maiores feitas de casas construídas às pressas com paredes de pedras e telhados de zinco.

Bem, numa área de intensa atividade sísmica, o ideal seria investir em contruções como as do Japão, que contam com amortecedores nas bases e ligas mais flexíveis no lugar das tradicionais ferragens. Investimentos incompatíveis com a pobreza extrema haitiana. Nesse ambiente caótico que mais uma vez alarma o mundo, pessoas lutam para ter seus bens mais básicos. Falta água, comida, remédios... nem mesmo o presidente sabe quantificar as dimensões desse desastre. Algo próximo de 1% da população...quase uma limpeza..."genocídio natural". Como é possível entender a chamada justiça divina vendo essa verdade incontestável: os que menos tem são os que mais perdem?

É certo que em meio a tantos golpes e sanções, a população já castigada não teve tempo e recursos para se preparar como deveria. Mas repito, esse caos político é culpa da população miserável? Poupe-me! Todas as revoltas ocorridas foram tentativas desesperadas de derrubar governos tiranos e corrúptos. E isso é uma verdade antiga que se arrasta desde os tempos coloniais. É tanto sofrimento...sobrevida! As pessoas resistem por fé, força e união. "L'Union fait la force", como diz a bandeira. Palavras que tocam os filhos dessa terra em qualquer lugar do mundo. Aqui, no Brasil, jovens haitianos se mobilizam para ajudar seus parentes. O desejo de um deles: "Gostaria de estar com meus pais, chorando pelos que se foram e ajudando os que sobreviveram. Acho que nesse momento, o Haiti precisa de mim". Como pode, um país tão pobre, tão cheio de tragédias, dono de uma história tão conturbada possuír filhos tão orgulhosos e prestativos? Acho que as intempéries despertam nas pessoas a vontade de lutar por algo em que acreditam. E os haitianos, apesar de suas dificuldades, acreditam no pais que amam...e amam simplesmente por ser seu.

Nós, os brasileiros, não temos a mesma intimidade com furacões, terremotos e golpes de Estado. Pelo contrário, somos "abençoados por Deus". Será que essa "benção" sufocou nosso patriotismo e nos fez alheios às maravilhas de nossa terra mãe? Pode ser...afinal, o "Haiti não é aqui", mas já foi um dia e poderia voltar a ser...

"E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui".

(Caetano Veloso - Haiti) 

Fontes:


* Jornal Nacional - 13/01/20010
* Jornal da Globo - 13/01/2010
 - Política do Haiti (acesso em 13/01/2010)
 

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Conto de uma noite qualquer



Pousei meus olhos sobre aqueles olhos verdes. Estranho e instigante como aquela conversa. Fui baixa, fui longe, fui eu. Estranhos conhecidos numa mesa de bar. Algumas dezenas de pessoas em volta inundavam de vozes o ambiente. Cada um tinha sua estória, escolhas, vivências. Passei a noite sorvendo contos eróticos e cerveja. Se ao menos eles soubessem... Novamente repousei meu olhar, dessa vez sobre um par de olhos azulados, apreensivos e curiosos. A timidez de menina pairava naquela face branca. Se ao menos ela soubesse... Temi pelo destino da conversa e também pelas horas que escorriam noite a dentro. Noite linda, lua clara e cheia. A maior expectadora de nossas tolices e desejos imundos. Um grupo, um bar, uma mesa. Revelações que fugiam levando consigo pudores. Deixa estar, quem precisa deles? Me vi naqueles olhos azulados, quase verdes. Quase um pedido de socorro! Eles gritavam. Por quê só eu ouvia? Se ao menos ele soubesse... Se aquele par de olhos verdes, invasivos e quentes imaginasse o que se passava ali! Era quase um poema. Era quase uma guerra. Uma mistura frenética de coisas. O caos reinava, mas por fora a luz fluia. Assim, seguiamos calmamente vagando nesse mar de sonhos. Aqueles olhos são brinquinhos de ouro! O que eles escondem? Nem meus olhos castanhos sabem dizer. Mas não importa! Algumas cervejas, algumas palavras, risos e estórias...
  _  Garçom, a conta!
Noite a fora, estranhos amigos seguem abraçados.
Tanto fez, tanto faz.
Se ao menos nós todos soubessemos...