Em junho de 2013 manifestantes
invadiram o Congresso pedindo o fim da corrupção. Em outubro de 2014 essa mesma
manifestação foi considerada anti governo, embora fosse declaradamente
apartidária. Todos os partidos exploraram os anseios apontados pelo povo, mas
nenhum com a intenção real de leva-los à cabo. E em meio a todo esse caos, o
pior aconteceu. O povo se dividiu, guerreando entre si e culpando gregos e
troianos por um fracasso que ultrapassa dimensões continentais. Quem optou por
manter o atual governo é constantemente achacado por oposicionistas de si
mesmos. E digo de si mesmos porque quem torce contra o próprio país não é mais
brasileiro que quem votou no partido X ou Y. Sim, os argumentos antes da
campanha eram: o Brasil vai virar Cuba, vamos dividir o país, nordestinos não
poderiam votar, quem vota com o estômago não deveria ter título....e uma série
de outros gracejos. Depois das eleições veio a melhor parte: intervenção
militar pelo fim da democracia. Claro, a democracia só existe se a minha
vontade for feita, mesmo que a minha vontade não seja o desejo da maioria. É
muito democrático mesmo.
O que mais escuto de amigos e
familiares é que eu não tenho o direito de reclamar da corrupção porque votei
no atual governo. E da mesma forma eles também não se sentem responsáveis pela
bagunça, porque ao contrário de mim, eles não votaram no atual governo.
Gostaria apenas de saber quem é responsável então, já que quem votou não tem o
direito de cobrar e quem não votou não tem obrigação nenhuma de fazer isso. Afinal,
o Brasil é responsabilidade de quem? Porque enquanto os brasileiros brigam
entre si buscando culpados, os abusos e desvios permanecem. E pior, numa escala
que ultrapassa o Executivo e atinge a todos, inclusive o cara da padaria que adultera a validade dos produtos para continuar vendendo.
A corrupção é isso. Não tem cara,
não tem cor, não tem bandeira. E ao contrário do que muitos pensam, não começa
no voto e sim no imposto sonegado, no troco errado não devolvido, no “vantageiro”
que fura filas. Sim, a corrupção começa no seio do próprio povo e se enraíza no
limite de sua tolerância. Explico: se o meu partido se envolve em corrupção mas
a corrupção do partido adversário é maior, a do meu se torna suportável. Errado
é o outro que roubou mais! Ledo engano. Errados são todos os que roubaram e,
mais ainda, os que consideram que o erro de um pode ser absorvido ou apagado
pelo erro do outro.
O Brasil pede socorro e não é só
pelos bilhões desviados no escândalo do Banestado entre 1996 e 2002, nem pelos milhões recentemente desviados da Petrobras em negociatas com empreiteiras.
Empreiteiras essas que financiaram campanhas de diversos partidos, entre eles
os dois que protagonizaram a última campanha presidencial. Sim, não há gente
limpa nessa história, nem mesmo os eleitores. Todos são igualmente culpados: quem
escolheu o Câncer, quem escolheu a Aids e quem escolheu a Inércia. Cada um
carrega sua parcela de responsabilidade e tentar se posicionar como algoz não
diminui o dever de reparação.
Um presidente não governa sozinho
e, infelizmente, é na “Casa do Povo” que as maiores aberrações acontecem. Prova
disso é a alteração da meta fiscal aprovada nessa semana para que o governo não
seja responsabilizado por extrapolar nos gastos. Mas vejam, isso não é inédito.
FHC já o fez em 2001 e agora Dilma, em 2014. A questão é como eles conseguiram
tal proeza se a função da lei é se fazer cumprir e a função do Congresso é
justamente garantir que o Executivo esteja na linha. A resposta é simples: a
política no Brasil padece de corrupção sistêmica e esse mal não surgiu com o
partido X ou com o partido Y. Ele se lastreia na nossa História. Isto porque o Brasil
não foi terra de colonos interessados em construir uma Nação. Foi terra
explorada, saqueada até a última gota para servir a interesses além mar. Quem
não vinha para arrancar nossa riqueza, vinha para ser castigado. Isso mesmo, aqui era
terra de degredo. Passamos 500 anos exportando riquezas e aceitando bandidos e
ainda hoje não conseguimos quebrar esse ciclo. A diferença é que hoje os
bandidos estão no poder e a riqueza não vai mais para a Inglaterra ou Portugal
e sim para algum lugar aconchegante na Suíça.