sábado, 6 de dezembro de 2014

Brasil: ame ou Miami?




Em junho de 2013 manifestantes invadiram o Congresso pedindo o fim da corrupção. Em outubro de 2014 essa mesma manifestação foi considerada anti governo, embora fosse declaradamente apartidária. Todos os partidos exploraram os anseios apontados pelo povo, mas nenhum com a intenção real de leva-los à cabo. E em meio a todo esse caos, o pior aconteceu. O povo se dividiu, guerreando entre si e culpando gregos e troianos por um fracasso que ultrapassa dimensões continentais. Quem optou por manter o atual governo é constantemente achacado por oposicionistas de si mesmos. E digo de si mesmos porque quem torce contra o próprio país não é mais brasileiro que quem votou no partido X ou Y. Sim, os argumentos antes da campanha eram: o Brasil vai virar Cuba, vamos dividir o país, nordestinos não poderiam votar, quem vota com o estômago não deveria ter título....e uma série de outros gracejos. Depois das eleições veio a melhor parte: intervenção militar pelo fim da democracia. Claro, a democracia só existe se a minha vontade for feita, mesmo que a minha vontade não seja o desejo da maioria. É muito democrático mesmo.

O que mais escuto de amigos e familiares é que eu não tenho o direito de reclamar da corrupção porque votei no atual governo. E da mesma forma eles também não se sentem responsáveis pela bagunça, porque ao contrário de mim, eles não votaram no atual governo. Gostaria apenas de saber quem é responsável então, já que quem votou não tem o direito de cobrar e quem não votou não tem obrigação nenhuma de fazer isso. Afinal, o Brasil é responsabilidade de quem? Porque enquanto os brasileiros brigam entre si buscando culpados, os abusos e desvios permanecem. E pior, numa escala que ultrapassa o Executivo e atinge a todos, inclusive o cara da padaria que adultera a validade dos produtos para continuar vendendo.

A corrupção é isso. Não tem cara, não tem cor, não tem bandeira. E ao contrário do que muitos pensam, não começa no voto e sim no imposto sonegado, no troco errado não devolvido, no “vantageiro” que fura filas. Sim, a corrupção começa no seio do próprio povo e se enraíza no limite de sua tolerância. Explico: se o meu partido se envolve em corrupção mas a corrupção do partido adversário é maior, a do meu se torna suportável. Errado é o outro que roubou mais! Ledo engano. Errados são todos os que roubaram e, mais ainda, os que consideram que o erro de um pode ser absorvido ou apagado pelo erro do outro.

O Brasil pede socorro e não é só pelos bilhões desviados no escândalo do Banestado entre 1996 e 2002, nem pelos milhões recentemente desviados da Petrobras em negociatas com empreiteiras. Empreiteiras essas que financiaram campanhas de diversos partidos, entre eles os dois que protagonizaram a última campanha presidencial. Sim, não há gente limpa nessa história, nem mesmo os eleitores. Todos são igualmente culpados: quem escolheu o Câncer, quem escolheu a Aids e quem escolheu a Inércia. Cada um carrega sua parcela de responsabilidade e tentar se posicionar como algoz não diminui o dever de reparação.  

Um presidente não governa sozinho e, infelizmente, é na “Casa do Povo” que as maiores aberrações acontecem. Prova disso é a alteração da meta fiscal aprovada nessa semana para que o governo não seja responsabilizado por extrapolar nos gastos. Mas vejam, isso não é inédito. FHC já o fez em 2001 e agora Dilma, em 2014. A questão é como eles conseguiram tal proeza se a função da lei é se fazer cumprir e a função do Congresso é justamente garantir que o Executivo esteja na linha. A resposta é simples: a política no Brasil padece de corrupção sistêmica e esse mal não surgiu com o partido X ou com o partido Y. Ele se lastreia na nossa História. Isto porque o Brasil não foi terra de colonos interessados em construir uma Nação. Foi terra explorada, saqueada até a última gota para servir a interesses além mar. Quem não vinha para arrancar nossa riqueza, vinha para ser castigado. Isso mesmo, aqui era terra de degredo. Passamos 500 anos exportando riquezas e aceitando bandidos e ainda hoje não conseguimos quebrar esse ciclo. A diferença é que hoje os bandidos estão no poder e a riqueza não vai mais para a Inglaterra ou Portugal e sim para algum lugar aconchegante na Suíça.  

A verdade é que o brasileiro tem o sério defeito de tolerar os próprios defeitos e isso é algo cultural, popularizado como o nosso famoso “jeitinho”. "Pouco importa se o país está imerso num mar de lama, eu não tenho parte nisso"! "A culpa é dos eleitores do partido X, eles que se virem para arrumar a casa"! O problema é que moramos na mesma casa e, embora alguns tenham a opção de se mudar para Miami, a maioria não tem para onde ir. Então, o que fazer? Perder energia acusando quem optou pelo voto ou lutar juntos para que algo seja realmente feito? Eu prefiro acreditar que a vida não se resume numa história de “coxinhas” ou “empadinhas”, gregos ou troianos. Cada um carrega sua parcela de responsabilidade pelo todo e ratear a culpa é o primeiro passo para discutir saídas. Se isso não for feito às pressas, precisaremos de umas mil Miamis para suportar o peso de um Brasil saqueado e insatisfeito. Quando penso nisso, me lembro da memorável frase: "Brasil, ame-o ou deixe-o"? E de imediato me vem a célebre resposta: "O último a sair, apague a luz". Resta saber até quando vamos nos contentar em viver de fuga e escuridão.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Trilhe seus próprios caminhos e deixe eu para mim*



Existem muitas coisas que eu gostaria de entender... algumas a minha fé me explicou, mas em outras eu continuo buscando lógica. Gostaria de entender, por exemplo, por que toda indireta começa com a famosa "tem gente que..." e por que as pessoas se importam com isso simplesmente porque a "carapuça" serve. A verdade é que existem muitas cabeças para a mesma carapuça e uma única ideia para muitos seguidores. O resultado disso é um mar de indiretas e infantilidades que, na falta de um alvo específico, atinge o maior número de pessoas possível. 

Esse comportamento se torna ainda mais comum quando o que está em jogo são ideologias e se a conversa é sobre política, sai de baixo! Essa é, sem dúvidas, a maior perdição dos fanáticos. Eles babam, rosnam, xingam, distribuem suas ameaças e conspirações a esmo torcendo para que algum interessado siga seus passos ou para que algum desavisado o questione e assim ele possa demonstrar seus conhecimentos em público. Sim, porque o fanático é, antes de tudo, extremamente vaidoso. Ele dedica boa parte do seu tempo em discussões intermináveis e adora uma plateia. Não queira discordar de um fanático, porque nunca se sabe até onde ele pode chegar para demonstrar sua superioridade quase divina.

Outro perfil muito comum, principalmente em ano de eleições, é o propagador. Ele se deslumbra pela ideia do fanático e passa essa ideia adiante como se fosse uma verdade absoluta. Afinal, ela é mesmo! O fanático não admite outra realidade que não seja a sua e o propagador, como bom e fiel escudeiro, também não. Quando essa rede de propagadores cresce, podemos dizer que há uma especie de delírio coletivo ou, em outros dizeres, uma classe de super humanos. Pessoas assim acreditam que foram iluminadas e que todas as outras estão presas numa nuvem de ignorância sem fim. Isso explica o modus operandi do fanático, que expõe suas ideias em tom impositivo, quase sempre acompanhadas de um adjetivo depreciativo para aqueles que discordam total ou parcialmente. Essa casta iluminada não pode ser questionada nem em parte que já se desfaz num rio de ofensas e provas "incontestáveis".  

Além do fanático e do propagador, existe o livre. O livre analisa e questiona, podendo mudar de ideia a todo momento, desde que tenha bons motivos para isso. Ele quer entender, quer conhecer as diversas opiniões ligadas ao mesmo fato ou ideia e nem sempre se posiciona. Por que ele deveria tomar um lado? O livre é, antes de tudo, um observador. Quando se pronuncia é para fazer perguntas e se as respostas não agradam, ele busca outras. Essa aparente independência é bastante explorada pelo fanático, que acaba tachando o livre da forma que lhe convém. Isso porque o fanático não aceita meio termo. Se você não concorda integralmente com ele, está contra ele. É isso mesmo, o fanático adora tomar o livre como inimigo, mesmo que o livre não tenha a menor vocação ou paciência para duelar em prol do ego de outrem. O destino disso é o desvario ou a indiferença, sendo esta última a primeira escolha do livre. 

Num mundo cercado de desigualdades, o livre se pergunta onde estaria a solução para cada problema. Como solucionar a fome na África, a seca no nordeste brasileiro, a biopirataria na Amazônia, a guerra no Oriente Médio... Para tudo ele quer uma resposta, mas não suporta argumentos prontos e acabados, que não admitem uma revisão. Afinal, tudo pode ser revisto e as pessoas estão destinadas a evoluir para estágios onde o bem estar coletivo seja prioridade. Sim, mas isso não significa que o livre tenha a alma comunista. Ele sabe que a sociedade não está pronta para tamanho passo, mas acredita que um dia as pessoas realmente se importarão mais umas com as outras, sem que esse sentimento de comunhão seja imposto por um Regime. Mas o fanático não enxerga dessa forma. Aliás, por estar aprisionado numa capsula de racionalidade, ele não tem muito tato com sentimentos. Tudo que extrapola a razão é um mal psíquico digno de cuidados médicos. Por isso, quando um livre e um fanático se encontram, não existe diálogo. O fanático acaba achando o livre alienado e o livre acaba achando o fanático um louco ou tirano (um pouco dos dois, talvez). 

Mas será que diante de tantas divergências é possível haver um equilíbrio? Bem, primeiro é necessário haver harmonia dentro de cada parte. O fanático deve rever suas verdades prontas e se questionar mais sobre sua postura com aqueles que lhe são contrários. O propagador deve investigar a fundo as ideias por trás das bandeiras, antes de se tornar um defensor ou combatente delas. E o livre, bem, deve continuar investigando, se questionando, se construindo, afinal ele é livre para isso.

Fato é que no mundo ha espaço para livres, fanáticos, propagadores, alienígenas e afins. Todos podem coexistir sem prejuízos para os demais. Qualquer ideia contrária beira a arbitrariedade, o autoritarismo, a repressão e isso, em nenhuma hipótese, é salutar para os envolvidos. Cada um traz em si o reflexo de suas próprias experiências e a forma com que as ideia são colocadas ao público revela muito mais sobre o caráter e a personalidade do que sobre o intelecto. Por isso, antes de distribuir uma verdade inabalável, é interessante e até apropriado pensar se essa verdade chegará como punhal ou como luz para quem a recebe.


*Frase de Francesco Petrarca disponível em: http://www.quemdisse.com.br/frase.asp?frase=16209 

sábado, 23 de agosto de 2014

Para nunca mais esquecer...


Eu cai d'um comboio de cordas,
Desenfreado, frio, traiçoeiro…
Em alguma estrela distante, deixei um olhar…e um sorriso
Vagando por jardins ocultos, colhi ervas daninhas e espinhos
Engano meu…eles estavam entre as flores
Não percebi…
Quanto perdi de mim?
Quando?
Não sei ao certo quantas gotas de sal verti
Nem mesmo os olhos tem a resposta
Mas não importa…
O caminho de casa tem a distância de um pensamento
Estou de volta!
Para nunca mais esquecer!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Caminhada




Ainda tenho o peito aberto, vivo, vermelho…
Não sou exatamente o que deveria, mas quem é?
Venho de uma mistura do que a vida me deu… e me tirou.
Um pouco amarga, talvez, mas levo no rosto o mesmo sorriso, o de sempre…
É preciso lavar a alma…e a minha é leve, como a criança que sou
Posso caminhar sobre as águas, pois tenho quem me segure…
Meu pai é o vento, o sol, as estrelas…
Minha mãe é a terra, um olhar sereno pela manhã
Não preciso de muito, tenho o Tempo…meu amigo de longa data
E tenho minhas palavras, que escorrem quando o peito transborda…
Luz do meu caminho…vida…
Em cada pedaço  do  infinito encontro a mesma força…
A que emana de Deus…surge
Amo sem saber a quem
Sou amada pela terra que me suporta e pelo céu que me abriga
Não preciso de muito
O universo é minha casa
Sou nele, todos são em mim!
Namastê!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

PNDH - 3: Uma análise simples e "desapaixonada"



A internet é uma terra razoavelmente livre onde as pessoas podem se expor sobre temas diversos. Nas redes sociais esse fluxo de opiniões é ainda mais intenso, porém, muitos aproveitam esse espaço para moldar conceitos e criar falsos riscos, como ocorre nesse vídeo abaixo:


Aqui, o autor pretende de forma bastante incisiva deturpar o que está proposto no Projeto Nacional de Direitos Humanos - 3, que tem como objetivo criar normas programáticas para melhorar a resposta do Estado nos casos de violação desses direitos. Eis o problema: ao falar sobre o projeto o autor do vídeo sublinha algumas partes fora de seus contextos e dá a elas a interpretação que lhe convém. Isso ocorre, por exemplo, no trecho em que aparece a proibição da ostentação de símbolos religiosos em REPARTIÇÕES PÚBLICAS, o que condiz com um Estado LAICO, mas nas palavras do apresentador estes símbolos serão abolidos em QUALQUER situação.

Outro ponto bastante perigoso fala sobre desconstruir a heteronormatização (ideia de que apenas ser heterossexual é normal). Ao fazer isso, segundo o autor, o Estado vai RETIRAR O DIREITO de casais hetero, ou seja, ao desconsiderar a ideia de que APENAS os relacionamentos heteroafetivos são normais e dignos de reconhecimento do Estado, estes casais hetero não seriam mais considerados uma família para fins civis! Gostaria apenas de saber como, juridicamente falando, isso seria possível... 

Adiante o autor fala sobre a regulamentação da profissão de prostituta. Quanto a isso, é preciso observar que trata-se da profissão mais antiga do mundo e, portanto, ela não vai acabar por mero decreto. Dessa forma, é mais que necessário dar às pessoas que lidam com esse trabalho a proteção inerente a QUALQUER trabalhador e isto, por si só, já reduziria o lucro de quem explora esse "ramo" às custas da redução dos direitos das mulheres. Entretanto, como bom deturpador e sensacionalista, o autor afirma que ao reconhecer a prostituição como profissão, nossas crianças seriam encorajadas a ver nessa área uma carreira futura. Claro, o apoio da família nada interfere nessa hora e as crianças nunca se espelham nos pais para buscar uma carreira. Elas decidem e pronto! 

Mas como se não bastasse tamanho disparate, o autor prossegue com suas distorções e omissões para criar um conceito pautado no medo. Quando o projeto propõe o uso da mediação como medida INICIAL para a resolução de conflitos agrários e urbanos e ainda na transcrição fiel do dispositivo, “como medida preliminar à avaliação da concessão da liminar SEM PREJUÍZO DE OUTROS MEIOS INSTITUCIONAIS PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS" o autor considera este o FIM DA PROPRIEDADE! Pasmem, a justiça caminha para a mediação como forma inicial de resolução de conflitos a anos! Isso nada mais é do que resguardar o princípio da celeridade processual, desafogando as varas cíveis já imersas em processos que se arrastam no tempo. E observem, a norma é clara quando diz que não haverá prejuízo de outros meios institucionais para a solução de conflitos, ou seja, sem acordo, a Justiça estará de portas abertas para fazer o seu trabalho.

A manutenção da polícia militar apenas como reserva das forças armadas, ou seja, a desmilitarização da polícia, é bem vista inclusive por militares, já que acaba com a hierarquia e subordina todos os servidores à ação de uma corregedoria. Além dos policiais trabalharem de forma mais protegida, sem se submeterem aos desmandos de oficiais e afins, a população também sairia no lucro, vez que teria à disposição um policial de fato, e não um soldado treinado para obedecer e atacar sem questionar. Mas claro, o autor não vê dessa forma e associa essa diretriz como um grande passo para um golpe de Estado. Chega a dar preguiça, mas vamos prosseguir...

A melhor (ou pior) parte ainda está por vir. Segundo o autor, promover o respeito aos Direitos Humanos na mídia é usar de censura! Claro, porque todo mundo gosta de ver sangue jorrando na tela e as crianças ficam fascinadas quando assistem a um quebra-pau ao vivo. Inclusive, programas policiais com direito a casos de assassinatos bárbaros são altamente instrutivos e devem ser transmitidos em horário nobre para melhorar o desempenho das nossas crianças. Aliás, para o autor, a educação e cultura em Direitos Humanos (com criação de curso superior) proposta pelo projeto é a mais clara tentativa de implantação de uma revolução cultural como a que Mao fez na China. Eu também encaro isso com grande medo! Afinal, ao conhecerem mais sobre Direitos Humanos nossas crianças se tornarão naturalmente comunistas e em poucos anos teremos nosso próprio exército vermelho.

Em meio a todas essas ameaças (muito bem fundamentadas pelo autor), uma se destaca de forma reluzente: ao "fomentar a defesa jurídica de defensores dos Direitos Humanos e difundir o conhecimento sobre os Direitos Humanos e sobre a legislação pertinente com publicações em linguagem e formato acessíveis" também daríamos um grande passo rumo ao comunismo. Afinal, é muito arriscado falar para as pessoas sobre um conjunto de normas que vem sendo elaborado desde a Segunda Guerra para impedir que aquelas atrocidades se repitam. E obviamente quem defende isso deve ser combatido de todas as formas.

E o delírio não para por aí... Fortalecer as redes e canais de denúncia e sua articulação com instituições de Direitos Humanos também é um risco em potencial. Para que aglutinar os meios de proteção e facilitar o acesso da vítima aos seus direitos assegurados não só pela nossa Constituição, mas também por mecanismos internacionais? É óbvio que isso é uma tentativa clara de implantar o comunismo! Ainda mais quando o projeto sugere que seja aperfeiçoado o sistema de fiscalização de violações aos Direitos Humanos, por meio do aprimoramento do arcabouço de sanções administrativas. Isso é quase um ultraje! Para que fiscalizar de forma mais efetiva quem comete violações dos Direitos Humanos? E pior, para que aumentar as sanções para quem pratica esse crime tão odioso??? Ahh, esqueci...porque isso é mais uma tática fundamental para se chegar a um regime totalitário. Faz muito sentido, muito mesmo...

Ampliar equipes de fiscalização sobre violações de Direitos Humanos, em parceria com a sociedade civil é algo ainda mais desnecessário. A sociedade deve ser omissa, cúmplice das práticas que vão contra os Direitos Humanos arduamente conquistados ao longo da História. E claro, defender os Direitos Humanos tem TUDO a ver com NAZISMO, por isso o autor sabiamente comparou esse projeto com o usado por Hitler. Esqueci ainda de um detalhe crucial: esse conjunto de ações programáticas automaticamente ALTERA A NOSSA CONSTITUIÇÃO, que por acaso é RÍGIDA e exige um rigoroso processo para aprovação de PECs. Mas essa não é a maior aberração proferida pelo autor. Segundo o projeto (e isso está escrito com estas palavras), as metas, prazos e recursos para a implantação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais, ou seja, REVISTOS A CADA DOIS ANOS, mas para o autor, analisando a mesma frase, eles se tornariam IRREVERSÍVEIS daqui dois anos se nada for feito.

Diante de tanta sabedoria oferecida à população em geral, eu sinceramente temo pelo futuro do meu país. Eu nunca percebi o quão próximos estamos da implantação de um regime totalitário! Aliás, acredito que os Estados Unidos da América com sua vasta rede de coleta de informações que abrange CADA CANTO DESSE MUNDO também deixaram a desejar, já que não se atentaram para o fato de que na América há um regime totalitário surgindo e se aliançando com o que há de pior no universo.

Sim, nosso governo é perverso...comprou o silêncio da população com uma bolsa esmola (que por acaso foi reconhecida pelas Nações Unidas como uma prática exemplar de combate à pobreza extrema). Essa bolsa esmola é tão eficaz para manusear interesses do povo que também passou a ser utilizada pelos EUA e tirou mais de 40 milhões de norte-americanos da miséria. Quanta crueldade abusar assim do senso crítico do povo norte-americano! Será que eles sabem que trocaram sua dignidade por comida? Não sei...

A educação também é a pior possível, principalmente quando oferecida pela União. São tantos Institutos Federais, novas Universidades, programas de intercâmbio com os melhores centros de ensino do mundo, bolsas de estudos e afins. Um horror!!! A educação de base também vai mal mas, quanto a isso, é preciso dividir a culpa. Existem escolas municipais e estaduais, que por óbvio, são administradas por municípios e estados que recebem verbas, inclusive da União, para custear este ensino. Em Minas, por exemplo, a educação é uma maravilha de destaque nacional. O sucesso é tão grande que tem gente querendo estendê-lo a todo o Brasil! Aliás, estes mesmos benfeitores da educação mineira também entendem muito de liberdade de imprensa. Os jornalistas de Minas são tão livres e gostam tanto de seu governo que nem fazem oposição a ele! Também pudera, por que questionar algo tão maravilhoso? A perfeição é tanta que os eleitores preferem votar na vice de um presidenciável morto do que no criador dessas políticas tão eficientes e inquestionáveis. Mas ora, que eu estou dizendo??? Oh, meu Deus, sou uma esquerdofrênica emotiva cheia de transtornos e sentimento de inferioridade! Não mereço crédito! Afinal, que razão uma pessoa que apoia a isonomia das normas e as políticas sociais inclusivas pode ter? Não, eu não tenho razão! Não acreditem em mim!

Acreditem na mordaça, na soberba, no coturno, na ofensa desmedida, na imposição das ideias, na manutenção da massa sob "controle". Acreditem no silêncio, na conspiração comunista... acreditem no quem quiserem, inclusive em mim, mas já vou logo avisando: eu não nasci em berço de ouro, portanto trabalho duro par ter o que tenho. Saber que existem pessoas como eu tendo seus direitos violados me incomoda, por isso eu luto por elas. Eu tive acesso ao ensino superior, por isso quero que todos cheguem a uma faculdade. E por achar que a lei deve ser para todos e não só para quem tem melhores condições, eu sou considerada emocionalmente instável. Por isso, não peço que acreditem em mim. Ao contrário, o meu pedido mais sincero é que vocês, leitores, duvidem! Duvidem das verdades prontas e inabaláveis porque elas tem cheiro de fascismo. E fascismo,  meus caros, definitivamente não tem nada a ver com democracia e muito menos com Direitos Humanos.  

sábado, 29 de março de 2014

O ódio nosso de cada dia



Muitas pessoas se dizem não preconceituosas, mas quando confrontadas sobre temas polêmicos, revelam com naturalidade opiniões banhadas de todo tipo de intolerância. Foi o que uma pesquisa recente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou ao questionar cerca de 3.800 pessoas sobre tolerância social e violência contra a mulher. Entre as afirmativas, está uma que desde o lançamento do estudo, no dia 27 de março, vem causando calorosas discussões nas redes sociais: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". 65,1% dos entrevistados concordaram total ou parcialmente, mas isso não é o pior. 58,5% também acreditam que "se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". E o mais alarmante é que, segundo o IPEA, 66,5% dos entrevistados, pasme, são mulheres! Sim, você não entendeu errado. As mulheres estão reproduzindo o machismo talvez até com mais convicção que os homens. 

Para entender como isso aconteceu, não é preciso ir longe. Vivemos numa sociedade onde as mulheres se submetem a inúmeros padrões. Exemplo simples é que no país do carnaval, muitos consideram como regra a mulher ter um corpo perfeito. E quando ela não tem, o mercado se encarrega de oferecer todo tipo de emagrecedores e tratamentos, como se quebrar a "regra" fosse quase uma doença que exige duro combate. O resultado disso é bulling, transtornos alimentares, tratamentos invasivos, como cirurgias plásticas e, em muitos casos, depressão. Quem discorda, basta assistir um pouco de TV para perceber que não há nenhuma apresentadora, seja de jornal ou de programas para entretenimento, que esteja fora do peso ou do "padrão" vigente de beleza. Já no caso dos homens, é só buscar algum programa tarde da noite para se deparar com um "beijo do gordo". É simples, não enxerga quem não quer.

Ironicamente, no Brasil, onde as mulheres gastam fortunas com a estética para ficarem bonitas na praia e serem aceitas socialmente, mostrar o corpo é um risco. Contraditório e intrigante, ainda mais se considerarmos que muitas mulheres concordam com isso. Meses antes da divulgação do resultado dessa pesquisa, um video produzido por mulheres rodou o mundo. Nele, as autoras ironizaram a chamada "culpa da vítima" nos casos de violência contra a mulher abordando, através do humor, as opiniões da sociedade indiana sobre o tema.

  <a href="http://www.linkedtube.com/sv3-0xEP0CE231e80ebd2fa43053be1566f477c323b.htm">LinkedTube</a>

No direito penal, a culpa da vítima pode atenuar a pena ou até absolver o réu, a depender das circunstâncias. É o caso, por exemplo, de alguém que vem a óbito porque se jogou na frente de um carro. O condutor do veículo não pode responder como se desejasse o resultado, então, a análise da culpa da vítima é aceitável e até necessária para o bom julgamento do caso. Porém, numa violência sexual é diferente. A vítima não se joga na frente do agressor e a agressão, por sua vez, não é algo inevitável como um atropelamento. Ao contrário, é o agressor que ataca. É ele quem deseja o resultado, e não a vítima. Mas por mais claro que isso seja, ainda há quem confunda. Nas redes sociais o que mais se viu nos últimos dias foram afirmações do tipo "eu não acho que as mulheres mereçam ser estupradas, mas sabendo que há tantos tarados por aí, por que elas se vestem de modo a provocá-los"? E esse é apenas um exemplo de todas as respostas machistas que podem ser encontradas sobre esse tema. Por mais óbvia que a mensagem seja, as pessoas continuam responsabilizando a vítima por usar roupas curtas, por passar por certos lugares, por adotar certo tipo de comportamento, enfim...ninguém concorda que a vítima merece ser estuprada, mas a maioria acha que o estupro poderia ser evitado... pela vítima! Quanta incoerência!

Mas a pesquisa do IPEA não parou por aí. 78,7% dos entrevistados acreditam que toda mulher sonha em se casar; para 59,5%, a mulher só se realiza quando tem filhos; 54,9% dividem as mulheres em "para a cama" e "para casar", e sobre homossexualismo, 51,7% acreditam que casamento gay deveria ser proibido e 59,2% consideram incômodo ver um casal gay se beijando em público. Os dados revelam uma total falta de conhecimento dos anseios da mulher, além de uma acentuada intolerância à liberdade sexual. Algo ainda mais alarmante é a falta de preocupação com a violência doméstica, afirmada pelos incríveis 81,9% dos entrevistados que concordam com a afirmativa "o que acontece com o casal em casa não interessa aos outros". E é justamente esse desinteresse pela vida doméstica do vizinho que alimenta as agressões. Muitos consideram a violência como "assunto privado" quando na verdade trata-se de um crime que merece ação coercitiva e punitiva do Estado. Interpretações como essa são frutos de uma sociedade embebida pelo patriarcalismo e que já não consegue imaginar a realidade fora dessa ótica.

Viemos de um mundo onde o homem era o provedor e também o proprietário. E suas posses abarcavam tudo que estava à sua volta, inclusive, sua esposa. Todo tipo de violência era permitida e aceita com naturalidade, mas na sociedade atual, com a mulher ascendendo no mercado de trabalho e mantendo lares, essa visão é ultrapassada e tão desumana quanto antes. A evolução está chegando e pode ser verificada pelos 91,4% que concordam com a frase: "Homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia". Porém, muito ainda precisa ser feito para reduzir os impactos do machismo enraizado no senso comum.

A pesquisa realizada e divulgada pelo IPEA é um instrumento de auto-avaliação da sociedade brasileira. Por ela, pudemos perceber o quanto o preconceito em relação à mulher, à liberdade sexual e ao homossexualismo estão presentes no cotidiano e esse é o primeiro passo para exercer a tolerância de forma mais expressiva. Não basta se dizer livre de preconceitos, é preciso que a conduta seja o reflexo desse pensamento. E mais que isso, o preconceito e a violência não podem ser vistos como questão cultural. Eles são o resultado de uma sociedade atrasada, que justifica aberrações sob o manto religioso, cultural, etc. Violência não se justifica, se combate! E a violência sexual, mais que qualquer outra, nunca é culpa da vítima!






Fontes:

- Comportamento feminino influencia estupro

- Pesquisa IPEA

- Imagens retiradas do Facebook® 


quarta-feira, 26 de março de 2014

As verdades por trás das verdades


2014 é um ano histórico. Há cinquenta anos atrás, no mês de março, o Brasil começava a viver o que ficaria conhecido como Golpe Militar de 1964. As questões que cercam esse momento são várias e envolvem não só ideologias, mas também muito sentimento, o que prejudica a análise dos fatos. Assim, para entender como chegamos até esse ponto, é preciso voltar um pouco mais, nas primeiras tentativas de tomada do poder por grupos de esquerda.

Intentona Comunista 

Esse foi o primeiro levante comunista de que sem tem registro no Brasil. Através dele, militantes da Aliança Nacional Libertadora buscavam tomar o poder durante o governo de Getúlio Vargas, em meados de 1935. O cenário da época era delicado.Vargas havia ascendido através da Revolução de 1930, que nada mais foi do que um golpe de Estado, já que invalidou a Constituição de 1891 e levou ao poder um candidato derrotado nas eleições presidenciais. Porém, foi nesse período que o país se libertou da política "Café com Leite", que mantinha o Estado na mão das oligarquias. Mas, nem tudo eram flores. Nas palavras de Ives Bezerra, em sua obra 1935 - Setenta Anos Depois, "a insurreição militar e comunista de 1935 ocorreu dentro de um contexto nacional no qual se destacavam a insatisfação popular com os rumos do governo Vargas, a crise econômica, a desilusão com as prometidas reformas políticas e a preocupação dos setores progressistas com o crescimento do integralismo. O Partido Comunista do Brasil vivia uma fase ufanista, na qual superestimava-se a mobilização popular da Aliança Nacional Libertadora, como se fosse exclusiva do partido". O resultado disso foi uma tentativa frustrada de golpe comunista que teve como consequência imediata a criação do Estado Novo. Não cabe no momento discutir as características do modelo de gestão utilizado por Vargas, que também tinha inclinações claramente ditatoriais, mas é preciso ponderar se teria sido melhor, naquele momento, uma gestão comunista. 

Após 1945

Curiosamente, Vargas foi levado pelos militares ao poder em 1930 para conter um avanço comunista e logo depois, em 1945, foi deposto por militares porque se afinizou com o nazifascismo praticado por Alemanha e Itália. O mundo após a Segunda Guerra estava dividido entre duas fortes ideologias que ainda hoje arrebanham adeptos: o Capitalismo e o Socialismo. Em meio a esse turbilhão de sentimentos e com o mundo se recuperando dos horrores do combate, uma sequencia de fatos surgiu para colocar ainda mais lenha no fogo. A vitória de Mao na China, em 1949, o ataque comunista à Coreia do Sul em 1950, a transformação de países europeus em repúblicas populares, a invasão do Tibet em 1950, a divisão do Vietnã em 1954, a construção do muro de Berlim em 1961, a Guerra do Vietnã em 1961, o envio de misseis soviéticos para Cuba em 1962, o fracasso da resistência Húngara, a Primavera de Praga, em 1968 e todas as guerrilhas que se instalaram na América Latina naquele período. Embebido nessas fortes tendências de esquerda, novamente o Brasil viveu um período de efervescência política que gerou o golpe em 1964. Alguns estudiosos afirmam que a inexperiência do então presidente João Goulart aliada à todas as incertezas desse período conturbado acabaram por conduzir os militares ao poder. Na visão da direita, a intervenção foi um contra-golpe para impedir a ascensão comunista pleiteada na Guerrilha do Araguaia. Já os contrários ao Regime afirmam que foi uma medida buscada pela elite temerosa sobre as reformas propostas por Jango. Entretanto, verdade seja dita: após o golpe ninguém da esquerda lutou para restaurar o governo de João Goulart, e sim para estabelecer um outro regime, também autoritário, e talvez pior que o já instalado.

Milagre Econômico

Um dos argumentos mais utilizados pelos defensores do Regime Militar é o chamado "milagre econômico" existente entre os anos de 1969 e 1973. O que muitos ignoram é que esse crescimento e fortalecimento da economia começou lá atrás, em 1930, quando Vargas priorizou a indústria de base e fez do Estado um investidor onde o capital privado era insuficiente. Em 1939, o governo apresentou um Plano Quinquenal para alavancar o desenvolvimento, investindo em uma usina de aço, uma fábrica de aviões, uma fábrica de motores e a Hidrelétrica de Paulo Afonso. Em seguida, veio a criação da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), da Companhia Vale do Rio Doce, atuando na extração de minérios, e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, fundamentais para a produção siderúrgica e energética. Aqui surgiram os alicerces do crescimento econômico, a modernização da indústria e também os problemas, como a migração para as cidades e o aumento do operariado oprimido por sindicatos que nada faziam além de seguir ordens do governo. 

Já na gestão de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, o crescimento acelerado custeado pelo financiamento do FMI tornou o Brasil um grande devedor assolado pela inflação. Jânio Quadros não pode resolver o problema e renunciou, entregando uma bomba política, social e econômica à João Goulart. Preocupado com as reformas e com a distribuição de renda, porém sem experiência para realizar uma coisa ou outra, Jango atraiu o medo da elite que, por sua vez, apoiou o golpe.

Os militares, buscando uma solução para a economia, criaram o Plano de Ação Econômica do Governo, que tinha como objetivos as reformas econômicas e o investindo na indústria, de modo a alcançar a estabilidade. Emilio Médici, que assumiu em 1969, colheu os frutos desse crescimento econômico e durante seu mandato, o país chegou a crescer mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. Porém, apesar de gerar milhões de empregos, a concentração de renda cresceu e elevou o abismo social, já que grande parte da população não desfrutava desse ‘milagre’ da economia. Com a abertura para o capital estrangeiro, o país continuou a contrair dívidas externas que, com as obras faraônicas, cresceram de forma galopante fazendo desse período um mar de contrastes e ambiguidade político-econômica.

Repressão

O conflito entre idéias muitas vezes gera efeitos negativos, principalmente quando o que está em jogo é o poder. O Brasil do Regime Militar vinha de um período em que os Direitos Humanos eram duramente desrespeitados, chegando a ser banal a prática da tortura com presos comuns desde os primórdios da República. Porém, quando essa tortura passou a ser utilizada contra presos políticos, a situação mudou. Num Estado onde o Executivo é "ampliado" e se sobrepõe aos demais poderes, há o risco dos excessos e do descontrole. A repressão foi sendo construída a passos largos, fortalecida a cada novo Ato Institucional até culminar na suspensão de todas as liberdades democráticas. Ora, as pessoas confiavam nos militares para restaurar a ordem, e não para afastarem dos brasileiros o sonho da democracia. Havia uma Constituição votada pelo Congresso em 1967 e o país caminhava para a liberdade. O AI-5 pegou a todos, civis e militantes, de surpresa. Foi uma decisão desastrada e precipitada que só demonstrou uma coisa: os militares não queriam deixar o poder. Depois disso, as torturas já conhecidas foram ainda mais utilizadas contra qualquer um que se manifestasse contrário ao modelo vigente. Nesse contexto, militantes foram perseguidos, mas também pessoas comuns, que nada tinham contra direita ou esquerda e que tiveram suas vidas aniquiladas pela mão do Estado. Obviamente os militantes cometeram inúmeros abusos, já que também queriam o poder e atropelariam qualquer obstáculo (ou vida) para tanto, mas nada se compara à força avassaladora de um Estado armado e articulado para matar em nome da paz, da ordem e do progresso. Ninguém sabe ao certo quantas vidas (entre civis, militares e militantes) foram ceifadas nesse período, já que muitas provas foram destruídas por ambos os lados. Porém, uma coisa é certa: foi um momento negro, de sofrimentos inimagináveis e que jamais será esquecido ou deturpado, ainda que alguns saudosos teimem em glorificá-lo.

Anistia x Comissão da Verdade

A Anistia é para um ou para todos? É perdão ou é esquecimento? Duas perguntas que geram um mar de possibilidades. Nas palavras do ministro Célio Borja, a Lei da Anistia é um instrumento de pacificação, já que seria impossível a sociedade prosseguir sem esquecer todas as obscuridades, tanto da direita quanto da esquerda. O arquiteto Percival Puggina também concorda com esse posicionamento. Para ele, a Anistia é necessária porque possibilita a ruptura com um passado negro e cria uma expectativa de futuro melhor para todos. Porém, esquecer é mais fácil para os torturadores do que para os torturados e as vítimas, mesmo décadas depois, ainda buscam respostas. Alguns consideram essas pessoas militantes esquerdistas ávidos por uma indenização do Estado. Outros já às encaram como vítimas, sejam militantes ou cidadãos confundidos com militantes, e que foram duramente torturados em busca de uma verdade que nem sempre existia. E para buscar essas respostas, o STF permitiu que fosse criada em 2012 a Comissão Nacional da Verdade. Porém, apesar de sua intenção nobre, a Comissão trouxe consigo uma polêmica: se houve excessos dos dois lados, por que os crimes cometidos pelos militantes não são investigados? É notório que dada a força repressiva do Estado as torturas foram bem maiores por parte do governo. Porém, negar os crimes da parte contrária é reforçar a imagem de agressores sanguinários que os militares já tem. E o que fazer? É um tema delicado que exige estudo, documentos e fatos, mas é incontestável que a Comissão da Verdade, na forma como foi estruturada, é um golpe certeiro na Lei da Anistia.  

Conclusões, opiniões e afins

O Regime Militar ainda hoje é aclamado por uns e condenado por outros, já que foi um período de crescimento econômico, mas também de endividamento, intensa desigualdade social e dura repressão. Apesar disso, a efervescência cultural gerada pelo conflito de ideologias causou uma explosão cultural expressa nos festivais de música. Grandes nomes da música popular brasileira ascenderam nessa época e a população, mais crítica e participativa politicamente,  protagonizou belos episódios de luta pela democracia. 

Foi um momento negro, de excessos e perseguições de ambos os lados e, justamente por isso, a Anistia veio para que o passado fosse superado, mas não esquecido. A questão é: como fazer justiça às vítimas sem investigar o que aconteceu? Sem remoer esse passado sórdido de dor e cerceamento de direitos? Será que a busca das respostas justifica um julgamento de exceção? Ou será que a verdade deve ser alcançada a todo custo? Esse conceito maquiavélico de que os fins justificam os meios pode perfeitamente se encaixar aqui, já que para alcançar o fim, que era impedir um golpe de esquerda, os militares usaram o meio, que era a repressão e a tortura. Da mesma forma, as vítimas se sentem no direito de usar o meio, que é a Comissão da Verdade, para alcançar o fim, que é a vingança contra seus algozes. Quem está certo? Não há como responder...

Fato é que hoje o Brasil vive uma ditadura velada, perniciosa e crescente, que se apoia na ignorância da população para tomar força. O PT tinha um discurso inovador e apaixonante, porém, ao alcançar o poder, se mostrou tão corrupto quanto os governos anteriores, além de usar as mesmas fórmulas que antes combatia. A realidade é essa: quem está no poder quer se manter no poder e vai buscar meios para isso. O meio dos militares era a força e o do PT é, nos dizeres de Puggina, "uma versão popular do mensalão". 

Por falar do mensalão, nada provoca mais vergonha no brasileiro do que a forma como a Ação Penal n° 470 terminou. Considerado por militantes um julgamento de exceção, pois não permitiu a defesa dos acusados, mesmo com anos de tramitação e uso de todos os recursos possíveis, a Ação terminou com uma condenação miserável, de penas ínfimas diante do estrago causado. Além da corrupção continuar sendo vista como algo banal e aceitável, a fé no Judiciário ficou ainda mais prejudicada.

Diante dos desmandos de políticos amorais, a população se organizou através do único meio livre de circulação de ideias, que é a web, e foi às ruas em junho de 2013. Uma resposta à altura da agressão, mas em vez de buscar meios para atender às queixas, a corja estuda medidas legais para cercear os protestos e "regulamentar" o serviço de comunicação via Internet. Sei que a princípio o Marco Civil da Internet foi uma ideia inovadora e que visava trazer mais segurança para os usuários da rede. Mas da forma como foi aprovado pela Câmara, vai sobrecarregar ainda mais o Judiciário com questões que antes eram resolvidas pelos próprios provedores, gerando como consequência direta um "engessamento" da Internet. E engessar a rede é tudo que o governo quer, já que estamos em ano de eleições, de copa e... de protestos. 

O projeto ainda passará pela análise do Senado e pode ser modificado, aprovado ou vetado. Muitos comemoram essa primeira aprovação como algo apenas positivo. Sim, pode ser positivo, mas dá brechas para intervenções que ainda não estão claras, o que também é perigoso. E o fato do Projeto ter surgido em 2009 e ser levado às pressas para votação apenas entre 2013 e 2014 é no mínimo curioso. Certo é que há muitos interesses por trás desse Marco Civil, tanto dos provedores quanto das empresas que utilizam a rede, dos internautas e claro, do governo. Com tantas facetas a serem analisadas, o mínimo que será necessário é cautela e agora cabe ao povo cobrar, esperar e cobrar.

A aproximação entre Brasil e regimes de esquerda, caracterizada pela construção do porto de Muriel, em Cuba, pelo apoio às arbitrariedades do governo de Maduro e pela possível parceria com a Rússia para a venda de armamento é outro ponto preocupante do atual governo. Ainda mais agora, que o mundo fala em sansões à Rússia por causa da recente anexação da Crimeia! É um cenário confuso e assustador que traz à tona os velhos medos presentes na Guerra Fria. Aliás, a Guerra Fria não passou. Ela estava apenas em estado de latência e agora parece começar a tomar forma. Há rumores de um novo grande conflito se aproximando e, com toda a tecnologia de hoje, as previsões não são as melhores caso isso ocorra. Mas enfim, são cenas para outros capítulos que, queira Deus, não serão escritos com sangue.

No meio desse mar de informações e insatisfações, há quem busque nas Forças Armadas uma salvação. Sinceramente, não sei se essa escolha seria viável, já que o inimigo hoje é outro, muito mais articulado e protegido. Ele não tem cara, cor ou bandeira e está presente em todos os setores da sociedade, até mesmo no poder. Com sua teia de influências, ele rouba e mata, sucateando o sistema para se manter no controle. Apesar de ser tão indeterminado, esse inimigo tem nome: corrupção. E combater esse monstro não é tarefa fácil. Não há receitas, porque até quem se dizia "remédio" acabou fazendo parte da "doença". É como um Midas às avessas, que em vez de produzir ouro, destrói tudo que toca. Qual é a solução? Militares? Socialismo, Golpe? Nada disso é certo, embora não seja impossível. Para ver as consequências de cada uma dessas escolhas, basta olhar o passado. Justamento por isso ele não pode ser rotulado, generalizado, atenuado ou esquecido. E só assim, vigilante, participativo e despido de fanatismos ideológicos, o povo brasileiro poderá, enfim, escolher o melhor caminho.

Fontes:

terça-feira, 11 de março de 2014

O Brasil de cada dia


A violência bate na porta, bate na cara, bate na gente. Ela chega num relance, tão rápido que a razão não pode nem mesmo acompanhar. Vem travestida de falhas que não cometemos, como se diante da omissão do Estado só nos restasse pagar a dívida que vem com a ameaça, o assalto, a perseguição, o assassinato. Vem com as drogas, entrando nos lares destruindo famílias. A violência se arma de vítimas que não tem algoz e usa seu poder de fogo contra quem trabalha. A violência combate o Brasil que produz como um veneno mata insetos numa lavoura, mas no fim, não sobram nem mesmo as plantas.

Nas ruas o povo luta para ter voz, mas o governo cada vez mais deixa claro que essa voz não será ouvida. Não interessam as queixas da massa, nem suas necessidades. Os donos da bola não vão passar a vez e o pior de tudo ainda está por vir. Essa gente suja precisa de votos e sabe que as urnas podem frustrar seus interesses. Assim, torna-se mais evidente que a farsa eleitoral vai ser maior do que nunca! Quando a mentira prevalecer, a população enraivecida pode derrubar essa corja como há tempos os franceses derrubaram a Bastilha. Ou então, como um rebanho indefeso, pode se curvar novamente ante ao novo (ou velho) opressor. O desfecho dessa história é claro e próximo, resta-nos saber apenas os detalhes.

Por todo lado vemos relatos de descaso do poder público. Nas cidades dos jogos as remoções varrem a pobreza para debaixo do tapete, ou melhor, dos estádios. A polícia não consegue levar segurança e os "justiceiros" ganham espaço em todo o território nacional. Nas lacunas da lei, as vítimas dão suas sentenças e o tribunal das ruas é a maior prova do caos que se instala.

A economia também não parece tão sólida e a dívida interna aperta no bolso. Os imóveis e automóveis alcançam preços estratosféricos e as vendas, cada vez menores, disparam um alerta para os economistas. No exterior, mais ações contraditórias. Se de um lado mandamos recursos a outros países e perdoamos dívidas, do outro pegamos empréstimos para bancar programas sociais. O desgoverno é evidente e o futuro dessa situação é cada vez mais sombrio.

Todas as atenções estão voltadas para a Copa, mas ninguém sabe o que virá depois dela. Cada investimento superfaturado foi realizado com recursos públicos, mesmo a iniciativa privada tendo plenas condições de garantir o evento. Por quê não seguir o exemplo da França ou da Alemanha, que não tiraram de seu povo para enriquecer empresas? Difícil dizer...

Ainda mais difícil é saber o que será do mundo agora que a tensão na Europa começa a lançar no vento rumores de guerra. O que fazer com aquele porto estrategicamente construído numa nação socialista com dinheiro brasileiro? O que dizer daqueles que lutam para censurar regular a internet nesse tempo de conflitos e incertezas? Não sei... E não saber é muito difícil.

O que esperar desse amanhã obscuro de menores assassinos, justiceiros errantes, urnas fraudáveis e governos corruptos com tendências fascistas? O amanhã é um mistério, mas uma coisa é fato: quem viver, verá!



Tempo Pra Mim...


Hoje me deu uma coisa parecida com tristeza, mas acho que não é bem isso. Deu vontade de terminar aquele texto, de terminar aquele trabalho, de aprender a tocar aquela música... deu vontade até de arrumar o quarto, mas esses desejos ficaram pelo caminho. Deu vontade de ligar, mas achei melhor deixar pra mais tarde. 

Essa sombra calou meus pensamentos, minha voz, paralisou meus dedos. O que fazer? Esse peso que me achata tem nome, mas não tem rosto. É uma voz sempre a me lembrar que eu posso ser grande, mas que me diminui lentamente. Será que eu posso te oferecer minha mão? Será que minha opinião faz diferença. Será que ainda posso te segurar nos braços? Não sei, mas seja como for, ainda estou aqui. 

Maldita tristeza repentina represada dentro da garganta! Maldito tempo que não passa... e malditos caminhos que não se cruzam. Não vou destruir sonhos com palavras secas nem chatear ninguém com pequenos problemas. Nada pode ser maior... e não há nada que não possa passar. Mas mesmo se não passar, ainda estarei aqui.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Desabafo...



Era o que faltava! Defender a imparcialidade é promover a baderna. Questionar artigos tendenciosos é me declarar socialista. Pedir para avaliar os fatos é descredibilizar pessoas e ver além das paixões é ser hipócrita e despreparada. Como devo agir então? Devo me conformar com todo tipo de asneira que vejo? Devo engolir esses conceitos banhados das impressões de alguém tão cego quanto os cegos que critica? O que é a verdade? Quantas verdades existem? Para cada cabeça há uma ideia e uma sentença. Não me julgue nem me diminua porque ninguém pode ver com meus olhos. Não tente me rebaixar com seus títulos porque títulos não são sinônimo de experiência, tampouco de sabedoria. Se há algo que caracteriza um sábio é a sua humildade ante à vida. Ele entende que não é dono do conhecimento e por isso não tenta curvar os outros aos seus conceitos. Não! Um verdadeiro sábio compreende que para cada fato há visões diferentes e em vez de dominar mentes, ele as faz expandir. Você pode ter vivido muitos anos e conhecer muitos lugares, mas não é dono da História e nem dos meus pensamentos.

Guarde sua prepotência e arrogância travestidas de cultura, porque nada disso me interessa. Quer dizer que eu mal saí da faculdade e não mereço crédito porque sou uma alienada pseudointelectual esquerdopata? Poupe-me de seu discurso envenenado. Não sou eu que tento trazer pessoas para a minha religião, meu partido, minhas ideias, meu cabresto! O conhecimento deve libertar e não restringir. O que você entende da vida se mal conhece as pessoas? Como pode se achar inteligente se não consegue enxergar além de si mesmo? Não sou eu que busco nos outros o meu próprio reflexo, então me respeite como o ser pensante que sou. Tenho o direito de pensar diferente sem ser taxada de "idiota útil" ou coisa parecida. Eu vejo os dois lados da moeda, coisa que você já não consegue. Enquanto busco soluções, você constrói inimigos. Enquanto eu analiso fatos, você se dobra ante as traquinagens de uma mídia vendida. Quem é você? Mostre-me seu rosto! 

Eu tenho o direito de não escolher um lado. Eu não sou você e não acredito num mundo onde todos pensem igual. Você diz que combate ditaduras, mas é autoritário em cada palavra. Eu defendo o direito de discordar, já você não reconhece outra versão que não seja a sua. É um pseudossábio que diz lutar por liberdade mas não sabe o que ela significa. Você pode ser o que quiser, pode pensar o que quiser, pode fazer o que quiser, desde que dê aos outros a mesma prerrogativa. Caso contrário, será tão ditador e pernicioso quanto os líderes que tanto odeia. Aliás, guarde seu ódio. "Idiotas úteis" existem em ambos os lados e para todos os gostos. Todos nós somos idiotas e minha burrice não é maior ou menor que a sua. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Pra não dizer que não falei das flores...


Um repórter cinematográfico morreu no meio de uma manifestação contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. Ele virou notícia na grande mídia, mas sua morte, estranhamente, não teve o mesmo impacto na emissora onde trabalhou por cerca de 10 anos. Minutos após a fatalidade (ou homicídio doloso), o fato já estava sendo explorado exaustivamente pelo maior veículo de comunicação do país, mas veja que ironia, tantos outros membros da imprensa foram massacrados pela polícia e não receberam a mesma comoção. Talvez seja porque esses repórteres não eram parte da grande imprensa, não serviam aos mesmos interesses e por isso foram vistos como baderneiros sem causa. Mais irônico ainda é o esforço maciço das grandes emissoras em condenar os manifestantes e voltar a opinião pública contra eles. Que interesse há nisso? Que interesse um deputado pode ter em fomentar a violência em uma manifestação que se iniciou de forma pacífica? Que interesse tem uma revista em desvirtuar as lideranças de um movimento que luta, entre outras causas, pelo fim da corrupção? Pelo enfraquecimento dessa corja que vive do dinheiro público e se vangloria da nossa miséria? É estranho... Só não é mais estranho que o silêncio de uma certa emissora de televisão durante a Ditadura Militar. Queria muito entender porque a perda de um colega doeu de forma tão profunda na mesma emissora que "engoliu" o "suicídio" de Vladimir Herzog nos porões do DOI-CODI. Não era pela censura, já que outros colegas mais, digamos, comovidos, burlaram a fiscalização dos militares e alfinetaram o regime até inflamar a população contra os opressores. A mídia atual, ao contrário, parece insistir em jogar a revolta popular contra os oprimidos. Não apoio o que aconteceu com o colega Santiago, mas usar sua morte como arma não me parece sinal de nobreza. Era um repórter, um brasileiro, uma vida.

Em ano de Copa, o mundo se prepara para conhecer o Brasil e a imprensa internacional, que já estava assustada com os preços estratosféricos cobrados pelo aluguel de salas e equipamentos, agora se apavora com a guerra nas ruas. Mais apavorados devem estar os investidores, que já não tem a mesma confiança na política e economia brasileiras. A dívida interna cresce dia após dia, alavancando a inflação que já começa a apertar no bolso. Não há saúde, educação nem transporte de qualidade. Nossas rodovias são o retrato do que há de mais retrógrado, fazendo com que boa parte dos alimentos e insumos se percam no caminho até nossos portos, também ultrapassados. Por falar em portos, Cuba acaba de ganhar um dos mais modernos do mundo! E o melhor é que foi um singelo presente do povo brasileiro. Isso mesmo, nossa saúde vai mal, nossa estrutura logística vai mal, nossa educação vai mal, mas o porto de Cuba, esse vai muito bem.

O Brasil é único país do mundo onde o ato de se manifestar é considerado mais nocivo que o ato de desviar recursos públicos ou utilizá-los indiscriminadamente. Mas isso tem uma explicação que, nas sábias palavras de um colega, se resume em fazer as leis para cumprir onde, quando e como quiser. O povo não faz as leis e parece estar cada vez mais refém de seus ditos representantes. A situação piora quando a mídia dá à massa a visão que seus financiadores querem. E quem são os financiadores? Adivinha... O povo acostumado à migalhas não busca se libertar da mão que o alimenta. Mal sabe que se de um lado vem o pão, do outro vem a mordaça. É preciso falar enquanto há voz e a voz não está na grande mídia. Quanto mais cedo a população perceber que deve buscar por si mesma as suas verdades, melhor. 

A verdade é que a imprensa é refém de razões alheias à vontade do povo e à sua própria. Por isso, toda informação, por mais fiel que pareça, pode ter sido corrompida. Não é saudável aceitar como verídicos fatos tratados em uma ilha de edição. Não se pode acreditar em leis duvidosas que tem como único objetivo reprimir à massa sob o pretexto de levar segurança. Esse caminho só conduz a um único fim que nós já conhecemos. E justamente porque conhecemos é que devemos combater com veemência.

A sociedade brasileira é hoje prisioneira da violência. Isso porque a confiança em nosso Judiciário é tão precária que serve de estímulo às práticas criminosas. É, no Brasil o crime compensa e o cidadão de bem vive enjaulado, assaltado pelo governo e oprimido pela bandidagem de toda espécie. Ter medo é questão de sobrevivência, mas não pode ser a única reação diante de tamanha crueldade. É preciso lutar para que a máquina pública sirva ao povo, mesmo que nesse processo vidas se percam. Hoje, os jornalistas sentiram na pele a perda de um colega. Amanhã, a sociedade pode sentir na carne os grilhões de mais uma ditadura. Só nos resta lutar até que tudo mude ou até que a última voz se cale e sejamos um país de mudos.