domingo, 9 de maio de 2010

Retrato de um Sistema


Este texto é baseado num posicionamento meu sobre o sistema panóptico de vigilância do filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham.

Eu Não tenho idéias. Todas as minhas idéias, que não são minhas, são frutos deturpados de uma visão que me impuseram sobre fatos que não sei compreender.

Eu desconheço fatos. Eu desconheço respostas. Conhecer respostas é perigoso e desnecessário. Por isso, não preciso de respostas. Até porque, as perguntas não são minhas! Por que as respostas deveriam ser? Responder é demasiadamente complicado e estafante, o que justifica a presença de um poder superior, dedicado exclusivamente à difícil tarefa de perguntar e responder. Assim, não é preciso ter muitas ambições. É preciso trabalho, gratidão pelo serviço dos que pensam.

Pensar pode levar pessoas a serem donas de si. Isto é perigoso! Não é saudável que pessoas comuns cáiam no abismo de sí mesmas. Elas poderiam não querer voltar. Por isso o trabalho existe: para manter pessoas comuns presas às suas respectivas realidades. A realidade sim é saudável. Sonhos são proibidos.

Quando se sonha, os horizontes se expandem e a realidade não pode existir no infinito. É preciso se manter no palpável, no correto, no trabalho, na redoma dos pensamentos. Pensar é realmente perigoso e por isso eu não penso. Deixo que outros pensem e sou feliz assim, sem ter a responsabilidade de ser. Ser é desnecessário. Bom mesmo é existir. E que outros sejam por mim e se desgastem no comando. Comandar é para os fortes. Eu não sou forte. Sou cópia, molde, parte sem nunca ser todo. Sou sem querer ser. Sou apenas mais um bicho social ao gosto de um sistema que não compreendo. Sou o que querem de mim. Não tenho ambição de ser eu.


PS.: A vigilância tem como função evitar que algo contrário ao poder aconteça e busca regulamentar a vida das pessoas para que estas exerçam suas atividades. Já a punição é o meio encontrado pelo poder para tentar corrigir as pessoas que infligem as regras ditadas e inibir outras pessoas que, por ventura, queiram cometer condutas semelhantes.

(Sobre "Vigiar e Punir, de Michel Foucault)


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