quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

E agora José?


José acordou cedo, como todos os Josés. Com seu macacão de operário, partiu rumo ao metrô. Estava lotado, como de costume e ele chegou ao trabalho atrasado, mais uma vez. Não é fácil cumprir horários numa cidade tão grande. Mas o chefe de José não entendeu, como todos os chefes. E José se viu sem rumo, caminhando só pelas ruas cinzentas. O dia era de sol, mas José não via. Perdido no tempo, ele remoía o café mal tomado e a noite mal dormida. O peso nos ombros incomodava. Peso de ser José no mundo. No peito, levava as vozes de todas as construções, mas não conseguia fazê-las ecoar. Sua própria voz já não lhe pertencia. O que era seu? Em passos lentos ia rasgando as praças e calçadas sujas num silêncio que ardia nos olhos. Ouvia ao longe uma pergunta sem resposta que subia ao céu como numa prece. E ele seguiu embalado num samba que era a história de sua vida. “Você marcha José, José, para onde? José, para onde? E agora José?”

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