quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quem é o povo?


Todos nós precisamos de algo em que acreditar e por isso buscamos os ídolos. Essas pessoas de qualidades caras aos nossos olhos nos motivam através do exemplo, tornando-nos melhores ou piores. O fato é que, boa ou má, a influenciação dos jovens por figuras públicas é uma constante.

Num passado não muito distante, os grupos que faziam a cabeça da juventude eram RPM, Ultraje a Rigor, Titãs, Legião Urbana, Barão Vermelho, Kid Abelha, Ira! entre outros. Todos carregados pelas impressões de um mundo recém saído da Guerra Fria, com fortes influências norteamericanas e focados na política nacional e nos movimentos estudantis. As letras produzidas se eternizaram por sua presença de espírito ao relatar eventos sociais de forma clara e engajada.

Hoje, porém, o que se vê são grupos sem grandes temas, alheios aos fatos de seu tempo e sem maiores pretensões. Não tem essência e são prefabricados em conformidade com o estilo dominante. São literalmente feitos para o sucesso, mas não para a história e seus fãs apenas reproduzem essa triste realidade.

Quando analisamos a letra de Ideologia, não é difícil perceber a avalanche de sentimentos que vão desde a avidez por mudanças até o pseudoconformismo com a estagnação. Isso porque Cazuza nasceu na elite que sempre desprezou e que agora o recebia novamente em seus círculos sociais. Num país em que os partidos de esquerda prometiam inovações utópicas, a realidade de corrupção e jogos de influência incomodava. Assim, com seus sonhos quebrados frente a fatos que não poderia mudar, ele mergulha num pessimismo amargo e áspero relembrando seus heróis, entre eles Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix,que perderam a vida para as drogas.

Cazuza se rebelava contra a política suja que via e claramente buscava algo em que acreditar. Essa revolta interna que transbordava em palavras secas ecoou não só na memória dos que viveram nesse período, mas também nas vozes de tantos outros que ainda hoje se sentem tocados por esse hino de guerra ao sistema.

A verdade é que a nova geração não tem nada efetivamente produtivo para passar adiante. Enquanto no mundo o clima é de revoltas em massa, nosso país segue na mais perfeita paz: a paz dos que se sujeitam aos mais severos desmandos de políticos sem demonstrar a devida indignação. É preciso questionar, se fazer ouvir, ir às ruas, lutar! É essa inércia desmedida que gera nosso atraso e não as falhas do governo, como se diz por aí. Todos dizem que o povo tem o governo que merece, mas quem é o povo? Na hora de reclamar, "todos nós", mas na hora de fazer, é “ninguém”.

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